Aline Bento: por que é importante apoiar tecnologias sociais que estão brotando nos territórios

Criatividade e esforços, sozinhos, tendem a ser insuficientes para as comunidades concretizarem as muitas transformações socioambientais e culturais que anseiam. Por mais empenhadas que sejam, é preciso mais: recursos financeiros e apoio técnico e metodológico.

Esse fomento com acolhimento propicia um ambiente seguro no qual as pessoas podem testar as suas hipóteses de transformação em seus territórios, sem a pressão por bons resultados logo na primeira tentativa. Todo mundo começa de algum lugar.

Os recursos e o apoio são valiosos porque fornecem segurança financeira e técnica para as comunidades prototiparem as suas ideias com um suporte. Assim conseguem criar ativamente novas tecnologias sociais pelo exercício da observação, investigação, experimentação com os materiais e talentos que já têm, com abertura para o erro, aprimoramentos e compartilhamento de ideias.

É fundamental ainda o apoio inspiracional, por meio de conversas motivadoras em mentorias que proporcionam trocas enriquecedoras, fortalecimento dos grupos e a possibilidade de realizar testes e de experimentar diferentes caminhos para a criação de tecnologias de baixo custo, reproduzíveis e compartilháveis.

Documentar e sistematizar as descobertas são também
uma etapa essencial para que as inovações possam ser replicadas e disseminadas e, futuramente, venham a constituir políticas públicas de larga escala.

A criação de tecnologias sociais não é algo novo. Pelo contrário. Está presente desde que a humanidade vive em comunidade. No Brasil, grupos indígenas e quilombolas, por exemplo, que historicamente têm muitas de suas ideias e narrativas deslegitimadas, criam a todo o tempo tecnologias que são pensadas e testadas junto com a comunidade.

Eles provam, há décadas, que não há ninguém melhor do que a comunidade para conceber soluções para si mesma, construindo, de forma coletiva, novas saídas para velhos desafios territoriais. Não se pode esquecer também dos exemplos clássicos nesse campo como o soro caseiro, as cisternas e as hortas de tipo mandala, que melhoram a saúde das comunidades.

Todas essas constatações motivaram o Instituto Elos a criar o edital “Jovens Ideias”, que selecionou em 2023 oito propostas no país para receberem o apoio de um fundo semente que encoraja o nascimento de novas tecnologias sociais. 87% das iniciativas apoiadas pelo edital eram lideradas por mulheres.

Os projetos, ainda não testados ou em estágio inicial, são liderados por pessoas, em sua maioria jovens, que já passaram pelo programa Guerreiros Sem Armas (GSA), do Elos, que há quase 25 anos forma dezenas de lideranças mobilizadoras em 57 países para atuarem localmente a partir da escuta, respeito às culturas territoriais e criação coletiva.

O primeiro edital foi exclusivo para pessoas negras, de povos originários, comunidades tradicionais, periferias ou favelas, com renda familiar de até três salários-mínimos.

No início, duas oficinas abertas sobre elaboração de projetos para este edital auxiliaram os interessados a se inscreverem. A maioria das ideias propostas enfrentam o desafio do financiamento, seja por ainda estarem na fase inicial, seja pela complexidade da linguagem e das exigências de alguns editais de fomento.

As propostas selecionadas para o micro investimento são as mais diversas, compondo um belo mosaico. Elas já estão acontecendo e, incluem, por exemplo: projeto poético-musical em escolas públicas de Salvador; museu virtual de preservação de histórias e memórias de territórios periféricos em Recife; publicação de livro de escritores da periferia em Santos; oficinas culturais e de comunicação gratuitas em Campinas.

A profusão de propostas para o “Jovens Ideias” mostra o quanto esse formato de edital é necessário na atualidade e deve ser considerado por financiadores comprometidos com a transformação social feita pela comunidade e o quanto o Brasil tem jovens lideranças ávidas por um impulso que as ajude a pôr em prática todo o seu potencial, pertencimento e protagonismo.

Esse artigo é assinado pela Aline Bento. Ela é facilitadora de processos comunitários e coordenadora de projetos no Instituto Elos. Também é educadora, bióloga pela Universidade Santa Cecília (Unisanta) e pós- graduada em gestão ambiental pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), com experiência em permacultura. Ao lado de Mariana Felippe, Aline coordenou o Programa Jovens Ideias.

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