Foi o que explicou a estudiosa das relações humanas e mestra em psicologia social, Silvia Silva. É ela quem tem conduzido os primeiros encontros do Lab Causas, projeto criado pelo Instituto Elos para potencializar os interesses comuns e a cocriação de soluções de impacto entre as pessoas que passam pelo Programa GSA.
Entenda o que é Programa GSA clicando aqui e se inscreva para a próxima turma. Saiba como foi o encontro de abertura do Lab Causas clicando aqui.
O Lab Causas funciona assim: o Instituto Elos apoia a criação de duas Comunidades de Aprendizagem e Prática com metodologias, tecnologias sociais, mentorias e recursos financeiros para que elas possam investigar e desenhar pistas de ação ao redor de um desafio urgente do nosso tempo.
As escolhas desse ano foram: Volta ao Brasil em práticas na Educação Preta e A Juventude preta e o mercado de trabalho: do sonho ao trampo.
Cada grupo, que é formado por até 5 pessoas, poderia escolher qualquer assunto para investigar, desde que estivesse conectado ao chamado dessa primeira edição: por um mundo antirracista na prática.
E é aí que se encontram as histórias de Vitória, Renata, Ronaldo, Helô, Myrian, Kikiu, Jaana, Lua, Mari Behr e Priscilla, selecionadas para essa turma, com toda a pesquisa e história de vida da Silvia Silva. Por três encontros, ela levou para o grupo reflexões como essas:
“O racismo é uma realidade no interior de qualquer organização, dada sua característica estrutural que, por consequência, estrutura também as organizações”, explica.
“Neste cenário, o primeiro, e fundamental, movimento a ser feito é reconhecer a existência do racismo e compreender suas formas de manifestação, especialmente em nível sistêmico”. A ideia com as trocas com a Silvia, que somam três encontros, é construir um ponto de partida comum entre todas as pessoas participantes do Lab Causas sobre o racismo no contexto brasileiro.
“Após esse movimento inicial”, continua Silvia, “diversas ações podem e devem ser adotadas para que qualquer tipo de manifestação racista possa ser devidamente equacionada em um ambiente de aprendizagem e que desenvolve ações eficientes de valorização da diversidade”.
Como o convite do Lab Causas é inspirar ideias de ação que transformem positivamente os espaços, as narrativas e relações, Silvia falou bastante sobre a manifestação sistêmica do racismo. E foi deixando pistas pelo caminho, como essa:
“Ações como mapeamento do perfil racial da organização, localização das pessoas na hierarquia racial, criação de políticas intencionais internas de equidade racial, definição de padrões assertivos de encaminhamento para os casos de práticas racistas, criação de espaços de fortalecimento e cuidado para grupos racializados, entre outras iniciativas, tem o poder de transformar drasticamente as relações e posicionamento da organização intra e extramuros no que se refere a questão racial”.
Ou seja, explica Silvia, tem como fazer o enfrentamento. É preciso ter disposição institucional para isso.
Sobre o tema do Lab Causas em sua primeira edição, que é por um mundo antirracista na prática, Silvia celebra que seja “uma escolha que confronta a alienação racial, que oferece possibilidades de reconhecimento e reparação de desigualdades e recursos para um mundo antirracista na prática”.
Cada Comunidade de Aprendizagem e Prática, que fica ativa entre novembro e fevereiro de 2024, recebe um recurso financeiro de R$ 25 mil reais para a autogestão das pessoas participantes.
O recurso pode ser utilizado para pagamento de horas técnicas de quem compõe os grupos, cursos com a temática antirracista, viagens ou visitas de inspiração, participação em eventos, compra de livros, entre outras ações que tenham conexão direta com o tema.
Todo o percurso metodológico do Lab Causas é desenhado em cima da Filosofia Elos – e sobre isso, contaremos outro dia.