Conceiçãozinha e a sua tecnologia própria de cuidado

Podemos ser um tanto diferentes uns dos outros no que acreditamos ou não, mas existe um reencontro que acontece todos os dias a partir do que queremos igual: as crianças merecem um lugar seguro para que possam se desenvolver e se divertir, todo território precisa dos seus lugares de descanso das correrias da vida.

Às vezes é um campo de futebol, uma praça. Um parquinho, bem na rua principal. E esses lugares precisam de cuidado permanente.

Guardiões Comunitários do Conceiçãozinha / Crédito: Divulgação

No Sítio Conceiçãozinha, território parceiro do Instituto Elos no Guarujá, em São Paulo, nasceu até uma tecnologia local de cuidado coletivo de espaços comuns assim. É quando moradoras oferecem o que sabe bem, enquanto todo mundo ganha junto uma versão melhor do lugar em que moram. Os Guardiões do Território é um convite ao cultivo diário do pertencimento, a partir de atos de cuidado.

O QUE É UM TERRITÓRIO PARCEIRO

Todos os anos, o Instituto Elos traz pessoas de todos os continentes do mundo para viver e aprender a sua metodologia de mobilização a partir do Programa GSA, uma experiência imersiva de quase um mês na Baixada Santista. São mais de 600 participantes até hoje, vindos de mais de 70 países.

A formação se completa quando tudo que é aprendido é aplicado ao lado das lideranças dos territórios parceiros. É o caso do Sítio Conceiçãozinha, que acolheu uma das turmas da temporada 2024. Muitos sonhos coletivos nasceram e se materializaram durante aqueles dias, impulsionando mudanças nos espaços e nas relações.

Quando a imersão acaba, o trabalho do Instituto Elos continua com uma assessoria técnica, que apoia na materialização de um plano de ação com os sonhos coletivos de futuro para o território. É o que está acontecendo por lá agora, é o contexto de nascimento dos Guardiões do Território.

PERTENCIMENTO É UMA AÇÃO

Está na Metodologia Elos, pode ser encontrado também nos princípios que sustentam os Guardiões Comunitários do Conceiçãozinha: o que é realizado de forma participativa fortalece o senso de corresponsabilidade e o poder de transformação. De outro jeito, fica assim: eu sinto ser mais meu, quando mais tem de mim nas coisas.

Priscila Pereira, GSA 2014 e facilitadora do Instituto Elos no Conceiçãozinha, explica como este envolvimento pelo cuidado se dá na prática. E tudo começou depois da construção do primeiro espaço de lazer coletivo do bairro, que nasceu a partir de mutirões comunitários. Depois que chegaram ao mundo, eles precisavam ser cuidados.

Guardiões Comunitários do Conceiçãozinha / Crédito: Divulgação

 

“A Praça dos Sonhos virou um lugar onde as pessoas, principalmente as crianças, não arredavam o pé”, explica Priscilla, apontando a Dona Val como uma das mais empolgadas e comprometidas em cuidar de tudo.

“Ela morava ao lado e ficou muito feliz com a praça. Incorporou o papel de guardiã e passou a manter tudo impecável. Mas este cuidado todo também a consumia. Quando ela enfrentou problemas de saúde, o lugar ficou sem uma referência de cuidado”, diz a facilitadora, que chama atenção para uma dimensão importante: quem cuida de quem cuida nos territórios?

Foi naquele momento, explica Priscilla, que nasceu a ideia de criar o que hoje é chamado de Guardiões do Conceiçãozinha: um grupo de pessoas que moram por lá com diferentes conhecimentos e talentos que se revezam para cuidar dos espaços comuns. Se ama plantas, vai olhar para todos os jardins coletivos do bairro. Se conhece tudo de pintura, nenhuma parede ficara sem cor de agora em diante.

Entenda o programa / Crédito: Divulgação

 

VEM, TRAZ O QUE SABE

“Observei os espaços e suas necessidades, daí, surgiram cinco tipos de guardiões. A ideia era criar um programa que engajasse mais pessoas para reconhecer o potencial coletivo”, afirma, enquanto apresenta os papeis que nasceram: brincantes, faz tudo, limpa tudo, dedo verde, mobiliza, entre outros. Tudo estruturado como um grande jogo comunitário.

“Definimos os personagens juntos a partir de uma oficina, com cartinhas inspiradas no manual do Jogo Oásis”, que é uma ferramenta pedagógica que materializa a Metodologia Elos para uso dos territórios parceiros. 

Entre idas e vindas, pois cultivar este cuidado não é uma tarefa fácil, Priscilla explica que o grupo segue comprometido com seus papeis, com as mudanças que tem nascido na vida do bairro.

“Decidimos juntas, por exemplo, que é necessário limpar a praça três vezes por semana e que os brincantes farão atividades com as crianças a cada quinze dias”, explica.

E os ganhos, eles não são apenas simbólicos, aquele sentimento de que estamos fazendo a coisa certa por nós. Para motivar ainda mais o grupo, Priscilla criou um sistema de recompensas de fato. “Quem cumpre os combinados recebe uma cesta básica mensal e moedas humanitárias para usar na loja EcoTroca. Isso tem dado muito certo”, finaliza. 

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