Conexão Elos: adolescências que se constroem no encontro

Não é construir um espaço para a interação, mas um lugar que alimenta os vínculos. São coisas diferentes. Um espaço pode ser construído de concreto e paredes, mas lugar é onde circulam as histórias e os afetos das pessoas.  Ou, como defende o intelectual brasileiro Milton Santos, “é um espaço dotado de significado e pertencimento, onde as ações humanas se articulam com a realidade local”.

Desde junho, o Conexão Elos é o nosso convite para que as adolescências de quatro territórios parceiros encontrem em cada encontro um lugar seguro para serem quem vieram ser no mundo. A gente não nasce pronta, vai se fazendo.


passos que vêm de longe

O Conexão nasceu em 2020, quando a Metodologia Elos chegou às adolescências de territórios parceiros da Baixada Santista pela primeira vez. Com ela, trabalhou-se o desenvolvimento das potencialidades, a construção de senso de pertencimento e o protagonismo para uma cidadania ativa. De lá para cá foram cinco edições do projeto, com mais de 160 participantes. Em 2025, o Instituto Elos ampliou este trabalho.

Com recursos do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – FUMCAD/SP, que é gerido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Paulo – CMDCA/SP, trabalhando com 60 adolescentes de uma só vez, vindos de quatro territórios:  Jardim São Manoel, Paquetá, Vila dos Criadores e Morro Santa Maria. O programa tem duração de 12 meses, até 2026.

para dar nome às coisas

Há muitos jeitos de se criar um ambiente que estimule o desenvolvimento pessoal, que impulsione um mergulho na escuta atenta de crianças e adolescentes. Todos eles são atravessados por um mesmo valor, inegociável: a confiança. Quem conta essa história é a Luany Godoy, uma das facilitadoras do projeto.

“Existe uma visão socialmente imposta de que o adolescente é fechado, calado, não liga para os outros”, Luany começa dizendo, “mas quando se trabalha com eles, quando você cria vínculos, percebe que não é bem assim”. É isso que ela aprende todos os dias quando convida as participantes para as suas atividades.

“Ali, você percebe que aquela pessoa talvez só não tenha ainda um espaço, um lugar seguro para falar sobre como se sente, para poder demonstrar os seus sentimentos. Poder errar e acertar, mesmo”, observa.

Para Luany,  um encontro cuidadoso com o outro e o mundo começa com um reencontro cuidadoso com nós mesmas. Como primeiro movimento, a gente nomeia quem é, depois o que sabe, que vamos chamar por aqui de talentos. Costurando tudo isso, quais são aquelas coisas que sentimos e nem sabemos direito como dar um nome. E é neste momento que ela e eles estão, aprendendo a dar nome às coisas: sentimentos e necessidades.

“Cada território pede um jeito de pensar as atividades. No São Manoel, a gente começou com uma dança circular, com aquela música, Oração, já para convidá-los já para esse momento de reflexão sobre sentimentos”, relembra. Na letra do cantor curitibano Léo Fressato, uma metáfora para a complexidade que é sentir o que se sente, guardar tanta coisa que nem sempre é falada em voz alta. Mas, está ali. Para isso, o compositor escreveu assim:

“Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa
Cabe o meu amor
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois”

Música escutada e dança feita, Luany explica, que depois foi hora de ficar em roda e das lembranças. De puxar na memória alguma história, costurando a ela um sentimento daquele exato momento. Se sentindo seguras, elas contaram muita coisa.


“Em cartas que falavam sobre saudade, alguns adolescentes trouxeram sobre a perda de familiares, por exemplo. Outras se lembraram do que aconteceu na infância. Isso só acontece quando as pessoas estão se sentindo à vontade”, explica Luany. Em cada uma das quatro turmas, as mesmas conversas, só que diferentes. Cada grupo é um grupo, tem a sua identidade, a sua singularidade, o seu ritmo. 

Para Luany, o essencial aqui está em outro lugar. É sobre como construir o melhor ambiente possível para que as pessoas participantes se movimentem pela Metodologia Elos, mergulhem nas dinâmicas do Afeto, o passo em que estão. O segundo desta jornada de sete movimentos.

“Pra mim, este é o lugar onde os adolescentes podem expressar o que sentem, sem julgamentos. Mesmo que o sentimento pareça pequeno ou sem importância para mim, ele saberá que sempre poderá contar com meu acolhimento e atenção, porque para ele aquilo tem significado”, finaliza.

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