E se o Sonho estivesse dentro da Constituição brasileira?

Na Metodologia Elos, o Sonho é um dos sete movimentos que apoia a formulação de um futuro comum e radicalmente melhor para todos os seres ao mesmo tempo. É aquele momento que acontece em qualquer trabalho, em toda comunidade ou território, onde as pessoas da roda contam, muitas olhando para o alto, que se as coisas fossem por aquele caminho que elas dizem, as coisas iriam melhor que hoje.

A Myrian Castello nem desconfiava que isso acontecia assim quando entrou no Programa GSA, 11 anos atrás. Foi como chegar em casa. Ela é uma das 679 pessoas da Rede GSA, que são as pessoas que passaram pela nossa formação em lideranças mobilizadoras.

Na época, em 2014, ela havia acabado de colocar no mundo uma organização que carregava o sugestivo nome de Fábrica dos Sonhos. Sabia que, sim, o grande brilho nos seus olhos aparecia mesmo era quando escutava alguém contar o que sonhava, não importava o quê. Já contou mais de uma vez que poderia ficar naquele momento por horas. Daí encontrou um lugar, um grupo de pessoas, que transformou aquele momento num jeito de pescar pistas sobre futuros comuns. Foi pulo daqueles para o que imaginava fazer com a vida. Algo como encontrar régua e compasso, como canta o Gil.

“A Fábrica dos Sonhos nasceu em 2013, mas foi no Programa Guerreiros Sem Armas, no ano seguinte, que eu vi de perto o verdadeiro poder dos sonhos coletivos. A palavra metodologia trouxe sentido e direção para criar e ser muito de quem sou hoje. E muito do que a Fábrica dos Sonhos é agora”, explica.

Foi a primeira vez que Myrian viu que estava na direção certa fazendo o que fazia. Foi quando se sentiu pertencente a algo maior que os seus próprios sonhos de que o mundo, sim, pode e vai ser melhor que agora, ela diz. No GSA 2014, viu “que tinha um lugar para mim no mundo e que existia gente fazendo coisas incríveis. Percebi que o sonho, quando compartilhado, deixava de ser apenas uma ideia e se tornava uma força mobilizadora capaz de transformar comunidades inteiras”, define.

Para o Instituto Elos e para a Myrian, Sonho é uma coisa séria demais. Tão séria, que ela pensou que poderia ser um direito garantido na Constituição e tudo. E não é que ela e a sua rede estão bem próximas de fazer isso acontecer?

O Sonho como direito básico de um povo

Há alguns anos, Myrian tem dedicado à sua vida a impulsionar o Sonho como tecnologia para o desenvolvimento humano. Desta vontade nasceram ações, projetos e muitos encontros. E ao redor deste propósito, brotou o Movimento Direito de Sonhar. Foi com ele e a partir dele, compartilhando com outras centenas de pessoas que acreditam do mesmo jeito no poder realizador do Sonho, que a conversa chegou até a Brasília, na Câmara dos Deputados.

“Fizemos manifesto, abaixo assinado e um projeto de lei, que homologamos através da Comissão Legislativa Participativa da Câmara dos Deputados que ficou em tramitação por 3 anos até se tornar uma PEC, em 2025”, explica. Isso quer dizer que se a proposta for aprovada pelos deputados, o Sonho passará a ser um direito fundamental brasileiro.

“Garantir o Sonho como direito significa criar políticas públicas, espaços educativos e culturais que ampliem as possibilidades de imaginar e realizar. Apoiar quem sonha e remover as barreiras que impedem o sonho de florescer em toda as pessoas”, detalha.

Na prática, o Estado brasileiro precisará assumir o compromisso de criar condições para que todas as pessoas, não importa quem seja, de onde vem, possam poder imaginar o que desejam ser e fazer com as suas vidas. Igual aconteceu com ela.

“Isso quer dizer sustentar políticas públicas que ampliem referências, possibilidades e oportunidades, especialmente para quem mais teve seus horizontes limitados”. Para ficar em um exemplo, no campo da educação isso quer dizer estruturar uma visão de escola em que o currículo não seja exclusivamente tecnicista, sem espaço para o ato de imaginar, de fabular.

Para Myrian, esta inclusão na Constituição Federal muda tudo, porque desloca o sonho do campo do individual para o da política pública, onde imaginar também se torna um ato coletivo e transformador.  “Sonhar é o que nos torna humanos. E defender o direito de sonhar é, no fundo, defender a própria humanidade. E eu acredito que construir o comum é justamente isso: sonhar juntos e agir juntos, pensando global, agindo localmente”, afirma.

Se os tempos parecem mais difíceis, se Sonhar, no sentido de imaginar sem impedimentos o que pode vir a ser o mundo e eu tem cada vez menos espaço e tempo em nossas vidas, Myrian e o Movimento Direito de Sonhar faz um convite irrecusável pela esperança.

“Para mim, quando alguém diz que o sonho é algo distante, isso só reforça o quanto precisamos torná-lo um direito garantido. Eu não culpo quem pensa assim em um mundo que nos ensina desde muito cedo a desacreditar, ainda mais quando falta comida no prato, por exemplo. Mas o sonho não é luxo, é necessidade. Não é privilégio, é direito. Negar o direito de sonhar é negar o direito de existir com dignidade”, afirma.

Se você quer apoiar o Movimento Direito de Sonhar é só clicar aqui. Agora, se quer conhecer o Programa GSA que Myrian fez parte, daí você vem aqui.

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

DEIXE UM COMENTÁRIO

Categorias

Arquivos