Como o empreendedorismo social em comunidade promove geração de renda e fortalecimento de vínculos

Na Vila dos Pescadores, o edital Ativa a Vila já coleciona histórias que revelam o impacto do protagonismo quando a transformação é construída pelos próprios moradores.

Por Agnes Sofia Guimarães

Hoje, quando pensamos em quem faz acontecer o empreendedorismo social no Brasil, pensamos em grandes organizações que elaboram projetos de ação para promover impacto em regiões que lidam com desafios diversos todos os dias. Mas e quando a mudança é protagonizada pela própria comunidade? Na Vila dos Pescadores, bairro da cidade de Cubatão/SP, o edital Ativa a Vila acelera empreendimentos liderados pelos próprios moradores.

Empreendedorismo social é um conceito que define negócios e projetos que têm como objetivo final algum impacto positivo para a sociedade. Podem ser iniciativas promovendo geração de renda, acesso à educação, cultura para juventude, entre soluções. Diferentemente de uma ONG que depende de doações para manter sua atuação de causas, o empreendedorismo social é um modelo que oferece produtos e serviços para que possa se manter na sua principal missão de defender sua causa.

A pesquisa Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental identificou o aumento nos negócios de impacto no Brasil: ao analisar 1.011 empresas nacionais e mais de 11 mil empreendedores, o estudo trouxe que o número de empresas do ramo aumentou 63% entre 2019 e 2022. As organizações voltadas ao empreendedorismo social também estão mais especializadas e com focos melhor definidos, e sabem aproveitar a oportunidade gerada pela atenção do mundo corporativo às pequenas e grandes causas sociais.

No entanto, o empreendedorismo social ainda conta com um desafio que revela outra forma de desigualdade: o perfil de quem pode se dedicar a projetos de transformação social. Um estudo realizado pelo Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGVcenn), em parceria com a Fundação Arymax, revelou que boa parcela do empreendedorismo social brasileiro é liderado por empreendedores sociais brancos, com rendimento líquido dos negócios de mais de R$ 12.450 mensais, e que conseguem um investimento inicial 37 vezes maior do que empreendedores sociais periféricos.

Segundo o estudo, o empreendedorismo social nas periferias das principais cidades brasileiras é composto principalmente por mulheres negras (70%) e com rendimento líquido do negócio de até R$ 2.090 mensais. E em negócios sociais que ficam fragilizados com maior facilidade diante de crises econômicas: na pandemia da Covid-19, o estudo trouxe, 49% dos empreendedores sociais periféricos tiveram dificuldade para manter seus projetos.

Para uma transformação real e protagonizada por quem precisa viver a mudança, o Instituto Elos realizou uma parceria com a empresa Edge/Compass para a criação do Edital Ativa a Vila, programa de aceleração de empreendimentos sociais. Durante todo o ano, cinco projetos escritos por empreendedores sociais da Vila dos Pescadores são selecionados para receberem apoio da iniciativa.

Uma formação de empreendedorismo social

Durante o ano de 2024, os cinco projetos selecionados pelo edital Ativa a Vila recebem apoio financeiro e técnico: a equipe do Elos contribui com mentorias, consultorias técnicas, visitas de inspirações, em um intenso processo de formação de empŕeendedorismo social do território que vai muito além do valor do fundo semente que também é oferecido, a partir da parceria com a empresa Edge.

As bolsas do projeto Voa Guará buscam contar as histórias da Vila dos Pescadores por meio de cores e traços que lembram os lugares do bairro e da cidade. Foto: Acervo Pessoal

Quem se interessa pelo edital recebe apoio mesmo antes da seleção dos projetos: a equipe de facilitadores do Instituto Elos promove uma oficina de projetos enquanto o edital está aberto para inscrições. Durante os encontros, os moradores aprendem a escrever os projetos que vão submeter ao processo.

A Feira das Ideias, aberta ao público, é o momento em que os moradores consolidam o aprendizado, apresentando o que inscreveram no edital para toda a comunidade, além de passarem pelo olhar de consultores convidados pelo Instituto Elos para avaliarem as ideias.

“É um momento que consolida a primeira etapa que tivemos até aqui: as oficinas de construção de projeto, em que os moradores tiveram acesso a ferramentas que, geralmente, estão nas mãos de organizações que têm boas intenções para gerar impacto social, mas não são do território. Aqui, os moradores protagonizam a própria mudança”, explica a facilitadora do projeto, Patricia Ledo.

Transformando memórias em geração de renda

Neste ano, o edital Ativa a Vila também continua no apoio a projetos que se destacaram na última edição. Caso do Voa Guará, marca idealizada pela costureira Maria de Lourdes de Jesus Santana.

Equipe de mulheres lideradas pela dona Lourdes. Foto: Acervo Pessoal

Moradora há 40 anos da Vila dos Pescadores, dona Lourdes, como é conhecida pelo bairro, conta que queria construir uma marca que trouxesse a história do bairro. Nas bolsas idealizadas a partir do edital Ativa a Vila, ela e sua equipe costuram estampas que mostram locais marcantes da comunidade, como a estrada de ferro e o mangue.

Ao mesmo tempo, o projeto se tornou uma oportunidade para que mulheres da Vila dos Pescadores ampliassem o legado de dona Lourdes na moda regional, ao mesmo tempo em que encontraram uma fonte de renda.

“Aqui eu consigo pensar em um projeto que garanta que meu ofício alcance novas gerações de mulheres na vila, e a gente também traz um pouco da nossa história e dos nossos vizinhos, e até da própria Baixada”, celebra.

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