Em encontro do Comunidade 013, crianças apresentaram prioridades, enfatizando a preservação ambiental e a necessidade de espaços seguros para brincar.
Sábado à tarde, Espaço Elos. A roda formada por lideranças comunitárias que compõem o Comunidade 013, projeto do Instituto Elos que articula territórios da Baixada Santista, se abre. Chegou a hora de as crianças apresentarem os seus sonhos e as suas prioridades. Feito as pessoas adultas também fizeram.
O encontro aconteceu para uma construção da agenda coletiva do que este grupo de representantes comunitários fará ao longo do ano. A Sophia se levanta. Cartaz na mão:
“Oi, boa tarde. Vamos preservar o mangue, a natureza e a cidade. Não é só para ajudar a natureza, mas sim para cuidar dela. Porque sem a natureza a gente não estaria aqui onde vocês estão”. É aplaudida, fica tímida.
Antes e depois dela a cena se repete. Em comum, um pedido para que as questões ambientais sejam uma das prioridades do grupo. As crianças são feitas de futuro, estão mais atentas que todo o restante de nós.
Em todas as atividades do Comunidade 013, Clarissa Borges e Juliana Campos, responsáveis pelo projeto, constroem espaços de cuidado e para a participação das crianças. Sempre há uma profissional especialista para puxar atividades lúdicas. E quando há atividades de construção coletiva, as perguntas, vontades e sonhos delas são sempre considerados. Como todas as outras pessoas da roda.
“A gente propôs para a educadora que estaria com as crianças que também debatesse quais eram os temas que elas querem conversar até dezembro. E aí veio a temática do direito de brincar, da natureza, o direito de ser criança”, explica Clarissa. Um pouco do tempo brincando, o restante do tempo dizendo o que é importante para elas.
Escuta Ativa das infâncias
Em qualquer atividade do Instituto Elos, elas são as primeiras a chegar. As últimas a ir embora. Movimentam o entusiasmo, espantam o cansaço coletivo com a sua energia e colocam no centro das conversas as prioridades mais engajadoras: é que se a gente construir um parquinho, eu não vou precisar mais brincar no meio da rua. É perigoso. As crianças sabem muito bem o que querem, quais são as suas prioridades. Os adultos é que, muitas vezes, não prestam atenção. Mas, deveriam.
A escuta ativa das infâncias é uma diretriz internacional que vem da Organização das Nações Unidas – ONU. Durante a Convenção sobres os Direitos da Criança, em 1990, foram estabelecidas diretrizes que reconheciam o papel das crianças nas decisões que afetam suas vidas. No Brasil, a participação é estimulada pelo Marco Legal da Primeira Infância, de 2016.
CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Mariana Luz explica que “na prática, a lei parte do princípio de que a criança é um sujeito integral em fase de desenvolvimento. Ou seja: ela não é um ‘vir a ser’, mas sim uma pessoa que hoje, mesmo nos primeiros anos de vida, frequenta espaços e demanda por serviços públicos”. Logo, precisam ser consideradas em todos os espaços e momentos de produção da vida comunitária e pública. O Instituto Elos acredita na mesma coisa.
“A criança deve ser compreendida como um sujeito capaz de participar e contribuir com aquilo que lhe diz respeito e se expressar para assuntos que afetam sua vida”, defende Mariana.
É preciso construir os espaços de participação
Na roda de apresentação dos cartazes, os adultos se emocionaram. Este é um momento muito importante na construção de vínculo e respeito entre as infâncias e as pessoas adultas.
“Os adultos sabem que as crianças são testemunhas do que eles estão falando ali. E aí eles passam a pensar algo como: eu vou ter que criar condições para que isso que elas estão dizendo aconteça, para que a gente realmente cuide do meio ambiente”, destaca Clarissa. Sim, cuidar as questões ambientais é uma prioridade para elas. Mariana concorda:
“Esses movimentos não apenas ajudam a garantir que as crianças tenham acesso a oportunidades adequadas para alcançar todo o seu potencial, como também promovem uma cultura de respeito e escuta ativa desde a infância. Quando espaços assim surgem, nascem também oportunidades”, finaliza.
O grupo segue se encontrando até o fim deste ano, com uma agenda que está sendo desenhada toda ao redor dos interesses em comum. De crianças e adultos. O Instituto Elos facilita os encontros, criando também as condições técnicas e materiais para que eles aconteçam. Comunidade 013 é como chamamos essa articulação em rede de territórios parceiros do nosso trabalho.