Gabriel, GSA 2014: “Com o programa, eu tive a oportunidade de sair da minha bolha”

No perfil do Instituto Elos no Instagram, entrevistas com quem passou pelo GSA; Gabriel fez a formação uma década atrás e conta como foi.

GSA 2014, Gabriel Marmentini, de 31 anos, é natural de Florianópolis, Santa Catarina. Empreendedor social, ele movimenta duas organizações importantes para a sociedade civil brasileira. A Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço (CBG Brasil) e o Politize!, um instituto focado em educação política.

Academicamente, Gabriel tem os estudos a partir da administração, com foco em gestão, governança e transparência. Entre os seus interesses está o de profissionalizar as organizações da sociedade civil, as fortalecendo com uma maior capacidade de gestão para gerar impacto.

No último dia 5, Gabriel participou de uma transmissão ao vivo no Instagram do Instituto Elos em que contou como foi a sua experiência com o Programa GSA (Guerreiros Sem Armas). A conversa foi ao redor da importância de convivermos e construirmos com as pessoas diferentes de nós.

Neste exato momento, em Santos, 45 pessoas representando 14 países passam pela formação de lideranças mobilizadoras do Instituto Elos. Foi a mesma experiência que Gabriel viveu, uma década atrás. A seguir, trechos dessa boa conversa. Para assistir ao vídeo completo clique aqui.

Instituto Elos: A gente sabe que a vida não acontece em um dia. Que a gente é uma sucessão de dias e acontecimentos, que vão nos construindo. Quais acontecimentos que foram te levando para o campo do impacto social?

Acho que são três. Eu nunca passei por nenhuma grande dificuldade na minha vida. Minha mãe me deu absolutamente tudo que eu precisava de básico para sobreviver, para poder ter alimentação, segurança, educação, mas ao mesmo tempo também não era uma vida luxuosa. Minha mãe buscava sempre uma parcela de bolsa para não ter que pagar a mensalidade completa, e eu pude estudar em ambientes muito legais. Só que, ao mesmo tempo, eu não me sentia parte daquele espaço totalmente porque é como se eu visse as outras pessoas tendo acesso a determinadas situações que eu não tinha. Então, acho que essa questão de dar esse clique de você perceber que “Poxa, quais são os espaços em que eu transito, né? Eu pertenço ou não pertenço, como eu faço para pertencer e me sentir bem?” E isso aparece na minha vida já há muito cedo.

Um segundo tópico foi quando minha mãe descobriu um câncer de laringe, perdeu a voz. E aí, eu me deparei com uma situação de “Poxa, talvez eu perca a pessoa que eu mais amo na vida”, que para mim, família se resumiu honestamente à minha mãe. Então, é um pensamento muito louco de você também gerar um clique na sua cabeça. Aquele momento me tornou uma pessoa cuidadora. Eu precisei aprender a cuidar de uma pessoa com câncer. Eu precisei depois aprender a cuidar de uma pessoa que perdeu a voz. Aí, eu precisei aprender a cuidar de uma pessoa que se tornou uma pessoa com deficiência, uma PCD. E aí, eu fui aprendendo e dando vários cliques nessa minha jornada de que “Poxa, ela me deu a vida, ela me nutriu até aqui. Então, é óbvio que eu preciso também de alguma forma retribuir isso”. Então, são vários cliques assim, de presença, de cuidado, de você entender que a gente só é o que é porque tem o outro.

E o último foi o Guerreiros Sem Armas. Poder subir a quebrada lá, estar com vocês e furar todas as bolhas da minha cabeça e entender que o mundo é muito maior do que a minha janela, o meu quintal, a minha casa, né? E eu ver o quanto eu tinha para aprender e para contribuir foi fantástico. Então, o programa Guerreiros Sem Armas, de longe, é um dos marcos que está na minha vida. Está tatuado na minha barriga. Então, assim, sem puxar saco, é simplesmente uma questão transformadora e que só quem vive entende.

Instituto Elos: Olhando em perspectiva, por que foi tão importante, crucial para você expandir esse olhar e entender “não, eu tenho essa vida aqui, eu entendo como ela funciona, mas nossa, tem outras várias maneiras de estar no mundo”?

Eu destacaria três coisas. Primeiro, eu sou um homem branco, hétero, do Sul do Brasil, com diversos privilégios sociais que eu só fui entender o que era isso ao longo da minha vida. Naquela época, em 2014, nos meus 19 anos, acredito por ali, eu ter essa oportunidade de realmente conviver com 50 outras pessoas de mais de 20 países. Eu nunca tinha saído do Brasil, só tinha estado ali em Florianópolis, Santa Catarina e tudo mais. E aí, você começa a entender. Nossa, tá aqui uma pessoa da Tanzânia. Eu nunca nem pensei na Tanzânia. E a Tanzânia está me trazendo coisas que eu nunca nem imaginei. Isso, para mim, é uma coisa que te coloca na questão da igualdade. A gente, ser humano, de modo geral, por mais que a gente tenha vivências diferentes, dificuldades diferentes, a gente, no final das contas, é a mesma coisa. A gente passa pelas mesmas necessidades. Então, isso, de primeira, foi fantástico porque abriu a minha mente. Poxa, eu vivo uma vida em Florianópolis, mas tem muita gente ao redor do planeta que tem as mesmas dificuldades, os mesmos desafios. Então, como que a gente pode ajudar, contribuir e trocar?

Segunda coisa foi conhecer Santos, São Vicente, onde eu tive oportunidade de estar, e enxergar que o Brasil é o Brasil e é um país lindo, fantástico, mas o nosso território é tão plural e tem tantas dinâmicas. Eu nunca tinha ido para São Paulo na minha vida. Então, imagina, você vai para São Paulo e você fica um mês, praticamente, rodando as comunidades, conversando com as pessoas. Você passa a entender que as dinâmicas sociais do nosso país são muito complexas. Eu tive a oportunidade de sair da minha bolha de Florianópolis e entender o meu papel de brasileiro é ajudar na construção de um país melhor, porque um Brasil melhor para São Paulo é um Brasil melhor para Santa Catarina. É uma lógica de troca de impactar o outro.

E o terceiro ponto é a questão metodológica. Eu sou um cara de métodos, eu sou um cara de fazer acontecer, de pôr a mão na massa. E os Guerreiros Sem Armas tem uma metodologia. A gente vai entender o papel que a gente pode ter enquanto ser humano, de nos colocar à disposição para construir com o outro uma visão coletiva de futuro e realizar. A gente fala muito de co-construção, de co-criação, de vamos juntos fazer acontecer, mas muitas vezes é difícil na prática. A gente vê que tem muito ego envolvido, né? Tem muita necessidade de, às vezes, colocar o próprio ser humano e o indivíduo na frente. Então, para mim, enquanto gestão de projetos, gestão de organizações, gestão de time, foi fantástico. Entender que as coisas precisam ser feitas com metodologia, com clareza e com muito coração e afeto. Então, essas três coisas, para mim, foram fundamentais.

Assista a entrevista completa clicando aqui. Quer fazer parte do Programa Guerreiros Sem Armas 2025? Clique aqui e se inscreva.

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