GSA em Movimento: o sonho de Myrian Castello

Com seis anos, a Myrian Castello assistiu assim na TV: em 2025, a água do planeta vai acabar; foi um desespero. Era preciso avisar aos adultos.

Os adultos, eles nunca prestam atenção ao que importa de verdade, daí ela correu para chamar um primo, pareia de idade; era seu sócio de sonho. Nosso melhor sonho é sempre coletivo, já percebeu?

O coração e a imaginação de uma criança não estão preparadas para uma notícia dessa: que a água do planeta vai acabar, em 2025. Ela sai para fazer alguma coisa acontecer, sai para adiar o fim do mundo. O adulto vai marcar uma reunião em 15 dias, o convite vai por e-mail.

Não teve um adulto, ela contou, não teve um adulto por aqueles dias que não tenha recebido um cartãozinho alarmante com a notícia do fim próximo da água. E um pedido: economize, por favor. Distribuíram dezenas deles, ela não esqueceu isso nunca mais, mais de duas décadas depois, e me contou.

Myrian explica que essa foi a primeira vez em que sonhou e realizou nessa vida, depois vieram muitas outras. Feito aquela vez que inventou um produto Anti Stress para presentear o pai. Existia até linha de produção que envolvia bexiga e algum tipo de farinha. Esse negócio de sonhar e trazer coisas ao mundo era bem seu jeito, não deu outra, caiu na Engenharia. Foi lá que aprendeu como as coisas funcionam, saiu sabendo mais sobre o funcionamento de si mesma, e com uma decisão: “Quero devolver o sonhar para as pessoas”.

É que quase tudo na faculdade era tão diferente do que poderia ser que ela não conseguiu se encontrar por lá. A gente precisa estar presente para conseguir sonhar. Depois descobriu que quase ninguém se encontrou, era muito desperdício de vida.

Por que aquelas aulas arrastadas, sem nenhuma conexão com as pessoas, quando se poderia aprender o funcionamento das engrenagens observando um carrinho de caldo de cana?!? E depois ainda beber um copo e o chorinho. Tudo piorou para melhor, quando Myrian conheceu o Guerreiros Sem Armas, os Jogos Cooperativos: “Pela primeira vez não me senti sozinha no mundo. Encontrei minha comunidade”. Não poderia ter outro nome, uma organização que nasceu de sua inquietação e dos seus vários amigos e amigas encontradas por aquele caminho: Fábrica dos Sonhos.

Teve uma aula, uma vez, que Myrian descreveu como uma ida ao inferno, que se deparou com um lugar quente que saia fogo de todo lugar: era uma empresa de caminhões, e ela saiu traumatizada. Daí o motivo de ser uma fábrica agora também, mas de outro tipo: daquela que nos nasce de novo.

“O sonho é importante porque ele traz o direito de existir. Ele te ajuda a sair de alguns lugares, a se colocar em movimento. É sobre convidar as pessoas a irem para onde elas quiserem, imaginar esses lugares”, resume.  Feito aconteceu com ela que saiu da faculdade, foi acolhida pelos pais em sua decisão; entenderam que o coração de Myrian não estava na sala de aula; queria se dedicar a isso agora, fazer as pessoas voltarem a sonhar. Feito ela mesma voltou quando descobriu que sonhar já é um hábito de muitos e muitas por aí. Aquelas pessoas que encontrou no GSA.

De 2013 para cá, Myrian toca a Fábrica dos Sonhos, um lugar para sonhar com ética e amor. “Trabalhamos Para criar um mundo de amor em que todos os seres possam ter o direito de sonhar e oportunidades para realizar e inspirar”. Agora quer colocar o sonhar dentro da Constituição Brasileira: 

“Deve ser um direito humano, o Estado precisa garantir condições para que todas as pessoas possam sonhar e realizar seus sonhos. Na Fábrica trabalhamos para isso”, defende. Cada pessoa sonha de um jeito particular, mas existem algumas condições que favorecem o nascimento de pessoas e ambientes sonhadores. Myrian destaca alguns:

“Para sonhar, a gente precisa de necessidades básicas atendidas. Se você está num ambiente seguro, com comida todo dia, sente-se confiante a dar outros passos”, foi a primeira dica.

“Para sonhar, precisamos ter inspirações por perto, algo ou alguém que possamos perceber que é possível, já ver acontecendo”, o segundo, que se relaciona com o terceiro ponto de alguma maneira: líderes de torcida.

“Quem sonha precisa ter por perto pessoas que acreditem. É quem estimula, encoraja. É alguém que sempre irá ficar feliz com o seu avanço, mas também perguntará: o que posso fazer para te ajudar a chegar mais rápido?”, detalha. “Todo mundo já teve alguém que olhou de cara feia quando a gente contou um sonho, isso nos tira energia na hora”.

Tudo, até aqui, é importante, mas o essencial mesmo vem agora: “Quando chegamos numa comunidade, a gente sempre encontra alguém que está na chave da escassez, sabe. Isso acontece porque essa pessoa já recebeu muitos nãos na vida, sonhar ficou distante demais para ela”, explica Myrian. “Precisamos soprar a brasa que está quase se apagando”.

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