Aqui no Instituo Elos, nós acreditamos muito no potencial adolescente. Celebramos essa fase da vida de em sua inteireza, com todas as suas belezas e seus desafios.
Os desafios são muitos. Na adolescência, os jovens precisam descobrir quem são e isso levanta muitos questionamentos. Encontrar pertencimento e cultivar vínculos emocionais seguros são tarefas duras em uma sociedade que não dá muito espaço para emoções. E tudo isso fica mais complexo em um mundo socioeconomicamente desigual, competitivo, em crise ecológica e com tecnologias digitais bombardeando os jovens a todo mundo.
Queremos apoiar jovens a navegar essas realidades. Por isso, desenhamos nossos programas para juventudes de maneira que as apoiem a encontrar as paixões que as movem, a aprofundar seus vínculos e fortalecer seu pertencimento, a experimentar coisas novas que expandam seus repertórios de possibilidades e a se explorar criativamente para se expressarem no mundo de maneira autêntica.
O Geração GSA é nosso programa de educação voltado para adolescentes de 14 a 17 anos, que acontece dentro do Programa GSA. Uma das formas como apoiamos os jovens é através do pilar pedagógico de Relações Saudáveis e Diversas, através do qual queremos que os jovens se sintam seguros para sentir suas emoções, para expressá-las, para cometer erros. Queremos que eles experimentem escutar e ser escutados. Queremos oferecer uma oportunidade de se relacionar de maneira íntegra com outros jovens e adultos e encontrar pertencimento através de vínculos saudáveis e diversos.
Para ilustrar um pouco de como o programa reverbera em quem participa, entrevistamos o Gustavo Matias, um jovem sensível de 17 anos que participou da segunda edição do programa, que aconteceu em 2024. Ele nos conta sobre sua história, sobre o que o trouxe ao programa, sobre alguns de seus questionamentos e paixões pessoais e de como o programa o apoiou a encontrar pertencimento e a dar mais um passo a caminho do entendimento sobre seu lugar no mundo.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
Quem é o Gustavo e qual sua história?
Sou Gustavo Matias e tenho 17 anos. Sou filho de dois nordestinos, minha família toda é da Paraíba. Nasci na Favela do Porto Seguro, que é a entrada da Favela do Paraisópolis – o CEP é o mesmo. Atualmente, moro num condomínio de prédios no Morumbi. Mudei somente alguns passos de distância, mas a diferença é muito grande em relação ao tipo de pessoa que vejo, ao tipo de comportamento, ao tipo de convivência que se tem aqui.
O que despertou seu interesse em participar do Geração GSA?
Eu decidi ir para o Geração GSA primeiro porque eu não recuso oportunidade nenhuma. Desde pequeno, aceito todo tipo de oportunidade de participar de coisas diferentes. Segundo, porque eu gosto muito – muito mesmo – de conhecer pessoas novas e ter interações com diferentes histórias e perspectivas de vida. E além disso, porque tenho uma paixão pela área de ativismo, por falar sobre pautas sociais. Acredito que essa característica seja muito influenciada pelos amigos que tenho, pela realidade de onde vim e pelo conhecimento que venho adquirindo na minha escola de entender qual é o meu lugar no mundo e como as coisas funcionam social e politicamente falando.
Quais as coisas que mais te marcaram sobre a experiência no programa?
A coisa que mais me marcou foi a força da interação com as pessoas em tão pouco tempo. Percebo que consegui me conectar de fato com outras pessoas e comigo mesmo. Aprendi muito sobre como conversar, sobre como falar de coisas que não estou acostumado a falar, pois nunca fui ensinado a falar delas. E o fato de ter convivido com gente tão diferente de mim, pessoas que vieram e outros países e continentes… isso me marcou muito, muito mesmo.
Qual o impacto dessa experiência em suas percepções sobre ser um jovem negro?
Eu cresci em uma favela onde, até há pouco tempo, não se discutia tanto sobre questões raciais. Por isso, eu não sabia muito bem como identificar minha raça – se eu era branco, pardo, preto. Eu achava que negro era somente gente preta e os pardos eram algo à parte, assim como branco é outra raça. Quando entrei na minha escola, que é particular e de elite, eu percebi que todas as pessoas eram diferentes de mim. Eu era um dos únicos bolsistas na época, então me lembro de ficar muito desconfortável. Eu não entendia muito bem por quê, achava que era só por eu não estar acostumado com aquele ambiente.
Fui me aprofundando até que, em uma discussão com amigos de sala, eu aprendi que pardos também são negros. Isso me fez refletir sobre várias situações que eu vivi e vivia, sobre como elas tinham a ver com a minha raça e não era algo que “só” aconteceu comigo. Me via naquele lugar de ser negro demais para ser considerado branco e branco demais para ser considerado preto. Isso me gerava um sentimento de falta de pertencimento, que ficou mais evidente na adolescência, uma fase em que é muito importante se sentir incluído em algo. E sentir que não fazia parte nem de uma coisa, nem de outra, era muito frustrante para mim.
Tive uma conversa com a Bel, uma mulher negra que é facilitadora do Geração GSA, para expressar algo nesse sentido, pois houve uma situação no programa em eu não sabia se me incluía com os negros ou não. Acabei não indo para não gerar desconforto e a conversa com ela me reconfortou e me ajudou a entender que eu de fato faço parte de algo.
Ser um jovem negro que ocupa espaço de elite é, por um lado, muito bom, pois sei que estou tendo uma oportunidade importante. Mas, por outro, me gera uma insegurança constante, pois tenho que tomar cuidado com como ajo, com o que falo, com tudo, algo que não acontece quando estou com meus amigos pretos. E estar nesses ambientes privilegiados também gera uma pressão, pois todo mundo fala que tenho que dar valor e que tenho que ser 3 vezes melhor do que as pessoas para quem esse ambiente foi feito, pois esses espaços não foram feitos para nós, pessoas negras. Mas, para além da pressão, também entendo que estar lá é um ato político de resistência e empoderamento.
Como você acha que essa experiência tem influenciado sua forma de estar no mundo desde então?
A partir do que vivi no Geração GSA, consegui entender que eu podia me conectar mais com pessoas diferentes de mim. Consegui entender que eu não estou sozinho, pois no programa eu encontrei muita gente com muitas coisas em comum comigo e que me fizeram me sentir mais seguro, enxergando que não sou o único assim no mundo. Posso olhar para o lado e me sentir identificado.
Acho que o Geração GSA de fato mudou minha vida e a maneira como penso sobre coisas às quais eu não dava muita atenção, como por exemplo meus desafios em falar da minha história, sobre como é raro pararmos para escutar as histórias das pessoas, pois todo mundo acaba ficando inseguro de falar sobre assuntos delicados. É isso, acho que o Geração GSA me ajudou muito nesses aspectos.
As inscrições para o programa Geração GSA estão chegando, acompanhe nosso instagram @elosbrasil.