Os Milagres de Felipe Ferreira

É difícil reconhecer um milagre quando se está dentro dele, foi por aí que o Felipe Ferreira começou a falar. Morador da Aldeia, no Guarujá, ele é Guerreiros Sem Armas 2014.

Para saber que um Milagre nos arrodeia é preciso treinar o olhar para os pequenos sinais que vem de todos os lados. Estar aberto ao impossível, diante dos nossos olhos.

No caso do Felipe, o primeiro encontro foi quando era jovem: uma paixão grande por lutas. Anos mais tarde, foi este amor que o entregou nas mãos uma ferramenta para transformar o seu bairro: o Jiu Jitsu. Foi com ela que Felipe passou a trabalhar com crianças, construindo o Instituto Novos Sonhos. Mas história boa é aquela com muitos pequenos milagres pelo caminho, feito esta.

“Eu estava me preparando para enterrar o Hendrick, um filho que perdi poucos dias depois de nascer, num momento de muita dor. Quando um parceiro me chamou para resolver uns problemas”. Nessa época Felipe fazia muitas coisas, não é de todas que ele sente orgulho hoje. Aos 20 e poucos anos, a vida foi um turbilhão de emoções e caminhos.

“Eu expliquei que não poderia ir, ele foi sozinho. Depois fiquei sabendo que tomou seis tiros. Está numa cadeira de rodas. Aquilo mexeu comigo”.

Depois de alguns dias, a mesma história. Com outro amigo. Mais e mais barulhos de tiros, a notícia dolorosa de uma partida que o fez mergulhar numa depressão que lembra de cada detalhe, tanto tempo depois. Daí veio uma luz.

A luz é uma das manifestações de milagre: “O Kinho disse que não queria mais voltar pra vida errada, que só sairia do trabalho quando morresse”. Felipe pensou muito sobre quem oferece oportunidades para quem quer se transformar, ele não via muitas oportunidades assim por perto. Saiu do trabalho que tinha na época, convidou a antiga empresa para ser a primeira parceira do Novos Sonhos, ela aceitou. Começaram as aulas desse jeito. A gente só existe com os outros.

Muita coisa aconteceu nos últimos 10 anos, tempo que o instituto tem de vida. Nesse caminho, Felipe se agarrou à utopia de um mundo radicalmente melhor que hoje para atravessar os dias mais difíceis. E eles não foram poucos. 2020 foi o lugar mais alto do desânimo, de uma crença pessoal que estava fazendo tudo aquilo de alguma maneira errada: sentia-se sozinho, com uma responsabilidade gigante nas costas, que não conseguia carregar sozinho; sem muitas ideias de como seguir.

Era o começo da maior pandemia do século 21, da COVID-19. A comunidade precisaria do Felipe, mas o Felipe precisava dele mesmo. De se reencontrar. Entraram as hienas na história.

“A hiena é a favelada da Savana, já parou para pensar?”. Eu nunca tinha pensado nisso, e ele continua: “Quando estão juntas, elas fazem muito barulho. Se destacam porque sempre andam em bandos, fazendo bagunça por onde passa. Fazem tudo coletivamente, nunca abandona uma companheira”.

O Felipe estava em casa um dia, misturado nesse desanimo aí de cima, quando ouviu uma voz que pedia: pesquise mais sobre elas, sobre as hienas. E lá foi ele estudar o arquétipo, ficou com isso na cabeça quando saiu do outro lado dos estudos:

“Que incrível um animal que pensa tanto um no outro. E eu aqui, querendo ser o herói da minha comunidade”. Tatuou uma hiena no braço, para nunca mais esquecer: nenhuma de nós é mais importante que todas nós juntas. A Pedagogia Nós por Nós nasceu assim.

Todas as pessoas do mundo sabem alguma coisa. A gente passa pela vida assim, usando esses pequenos talentos que a gente tem, tirando eles do bolso dia após dia: como pregar um prego aqui, como costurar uma cortina ali; a maneira certa de pintar a parede para que não fique manchada. Ou, o jeito mais cuidadoso de atender uma pessoa e ajudá-la a resolver um problema. Talento é tudo que a gente coloca para jogo.

Este é o princípio de sua pedagogia: construir uma comunidade de pessoas que troquem o que sabem pelo que precisam.

Funciona como um Banco de Talentos, aberto a todas as moradoras e moradores da Aldeia. Oferecem algo que sabem fazer para o Instituto Novos Sonhos – pode ser cuidar da recepção 3 horas por dia, ou pintar a fachada que precisa de uma mãozinha – e em troca, a organização mapeia as necessidades de cada pessoa, corre o mundo para pedir: uma cesta básica, um kit de higiene. Mudanças são difíceis, Felipe contou.

Explicou muitas e muitas vezes que era preciso transformar o olhar que as pessoas tinham com o Novos Sonhos: de um lugar em que vou buscar o que preciso para um lugar que vou ajudar a construir, diariamente, oferecendo o que eu sei. Levando para casa o que preciso.

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