São Manoel e a força do fazer junto

Patrono da educação brasileira, o educador Paulo Freire afirmou que ninguém sabe mais, que sabemos diferente. Que se tem alguém que entende muito de leis e pode até saber um tanto delas de cabeça, terá alguém, também, que conhecerá tudo de folhas e plantas, só de olhar para um jardim. Os dois jeitos de saber são fundamentais à vida, cada um no seu tempo, ao seu modo.

O melhor mundo começa a acontecer quando cada uma de nós passa a conhecer e a reconhecer seu potencial. Quando colocamos os talentos e habilidades que cultivamos em favor da construção de futuros comuns entre nós. Passamos a reconhecer o que sabe quem está ao nosso lado. A inauguração do novo espaço do Centro Comunitário da Associação de Moradores do São Manoel, em Santos, é um bom exemplo disso na prática.

Uma transformação que é fruto do encontro da histórica identidade de luta por direitos do São Manoel com a Metodologia Elos. De diferentes saberes e talentos. A celebração aconteceu no sábado, 18, mas este encontro é uma história que vem de muito longe.

Fotografia por Felipe Beltrame/Matume

SOMOS UMA LONGA HISTÓRIA

Foi ali, uma década e meia atrás,  a primeira vez em que a Metodologia Elos foi trabalhada com quem mora no São Manoel, impulsionando o potencial das moradoras, o sentimento de pertencimento entre elas e o protagonismo coletivo. Referência na luta popular por direitos na Baixada Santista, por lá seguiram nascendo desde então muitas transformações nos espaços e nas relações.

Em 2024, o vínculo foi reforçado com a ida de uma das turmas do Programa GSA, a formação internacional de lideranças mobilizadoras do Instituto Elos. Durante quase um mês de imersão, participantes de todos os continentes do mundo aprenderem de maneira prática como mobilizar transformações coletivas em comunidades e territórios, a partir de uma relação com as lideranças, sonhos e talentos do São Manoel.

Assim que participantes voltam para casa, o Instituto Elos passa a um segundo momento, quando entrega assessoria técnica ao território parceiro. Ou seja, com reuniões comunitárias, intercâmbio de tecnologias sociais e até apoio financeiro, ele apoia tecnicamente a materialização dos sonhos coletivos que seguem brotando entre as moradoras.

Foi o que aconteceu com a transformação do centro comunitário, que sempre acolheu de reuniões de lideranças do bairro a festas de aniversário. Agora reformado e equipado, ele se apresenta com muitas novas possibilidades de uso. Para Natasha Gabriel, do Instituto Elos, é um trabalho de restauração da dignidade coletiva.

Fotografia por Felipe Beltrame/Matume

 

UM ESPAÇO, MIL JEITOS DE SE USAR

O que é um espaço com dignidade? É um espaço para as pessoas utilizarem um banheiro adequado, uma cozinha adequada para fazer a alimentação das crianças, um banheiro acessível para poder receber também pessoas em cadeira de rodas que moram no São Manoel”, explica.

Para Natasha, a revitalização cuida da saúde física das pessoas que frequentam o centro comunitário, ao mesmo tempo em que cuida da saúde coletiva do território, já que os espaços nunca são apenas pontos de encontro para reuniões ou mobilizações sociais. São, também, o ambiente que alimenta a troca entre as moradoras, um lugar para as celebrações comunitárias como aniversários ou dia das crianças.

“Quando a gente pensa em revitalizar esses espaços, nós estamos fortalecendo estes ambientes como palco para que as iniciativas comunitárias aconteçam, para que aquilo que já pulsa aqui no São Manoel se potencialize ainda mais, que novas parcerias cheguem”, explica. Pamela Gaino, facilitadora que acompanhou essa jornada de um ano de assessoria técnica, explica como essa relação se dá, de maneira prática.

“Os espaços comunitários acabam sendo esse ponto de apoio e de suporte, muitas vezes sendo o único lugar disponível para a convivência. Quando acontece uma festa, um chá de fraldas, uma festa de aniversário. Então, ele é um espaço de pertencimento”, explica Pamela. Ela defende que “as pessoas se sentem parte destes espaços. Quando entra a senhora que é voluntária na cozinha, quando entra o jovem que participa de alguma atividade promovida pelo centro”, detalha a facilitadora.

Fotografia por Felipe Beltrame/Matume

QUEM FAZ UM DIA COMO ESTE ACONTECER

A transformação do centro comunitário é resultado de uma grande rede de parcerias. Moradoras e moradores do São Manoel doaram tempo e talento para tornar real o sonho coletivo. Apoios também vieram de fora do território — como o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP), que financiou as atividades do Instituto Elos nos últimos doze meses, e o Instituto Lapin, responsável pela doação de móveis e utensílios ao fim da reforma.

Ana Lu Ribeiro, gerente de projetos do Lapin, resume o sentido desse gesto: “Ao apoiar a estruturação com a compra de móveis e utensílios, ajudamos a transformar o centro em um espaço vivo, que acolhe atividades educativas, culturais e sociais. Um centro comunitário bem equipado deixa de ser apenas uma sede: torna-se um lugar onde talentos são descobertos, ideias florescem e vínculos se fortalecem.”

CELEBRAMOS JUNTOS

Tudo que nasceu desta parceria entre o Instituto Elos e o território São Manoel é fruto de um esforço coletivo, que tem muitos nomes: Programa Transformadores Elos, Doadores da Nota Fiscal Paulista Elos, Prefeitura de Santos, CAU/SP, Dia de Doar Elos, Instituto Lapin e FAM Cargo.

Sem todos vocês e a Associação de Moradores do Bairro São Manoel, Associação de Moradores da Rua João Carlos, Sociedade de Melhoramentos do Jardim São Manoel e a Horta Bons Frutos, nada disso seria possível. Celebramos cada uma, agradecemos a todo mundo.

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

DEIXE UM COMENTÁRIO

Categorias

Arquivos