GSA 2017, Tiago Pereira é de Cubatão, no litoral de São Paulo. Mas a sua casa é todo canto. Onde se sentir bem e útil para lutar por uma periferia reconhecida pela sua potência e não reduzida aos seus desafios. Ele acredita nisso com a vida.
“Eu sou muito privilegiado pelo fato de eu entrar e sair em diversos territórios, mano. Eu tenho essa facilidade de conseguir mobilizar, trocar ideia com todo mundo”, começa contando. O seu projeto de transformação, o “Fim de Semana no Parque”, é uma das 8 iniciativas apoiadas pelo Jovens Ideias em 2023.
Para ele, não existe mudança sem escuta ativa das necessidades e dos sonhos locais. E escutar com intenção é apreciar a outra pessoa inteiramente.
“Eu gosto de ouvir bastante e tentar materializar na minha mente o que seria benéfico para o território. No caso, também buscar entender o que cada pessoa dali poderia agregar”, explica.
Tiago é do movimento Hip Hop, da literatura periférica, um agitador cultural conhecido em sua região. Com o seu talento para juntar gente, criou lá atrás o Fim de Semana no Parque, que agora recebeu apoio do Jovens Ideias para trazer ao mundo ações de sustentabilidade, literatura e audiovisual.
Quando o Instituto Elos rodou uma pesquisa com a Comunidade GSA, que é como chamamos as pessoas que passaram por alguma edição do Programa Guerreiros Sem Armas, descobriu, entre tantas coisas, que era preciso apoiar mais de perto ideias que, inspiradas de alguma maneira pela Filosofia Elos, brotavam entre os mais de 640 participantes espalhados pelo mundo.
A maioria dessas ideias enfrentam o desafio do financiamento. Seja por estarem em fase inicial, seja pela complexidade da linguagem dos editais.
Mais que apoio a uma ação pontual ou a um projeto, a chamada de apoio é a busca de um ambiente seguro em que as pessoas possam testar as suas hipóteses de transformação. Ou seja, receber apoio técnico e financeiro do Instituto Elos para pesquisar, elaborar, desenhar, testar, errar se for necessário, em busca das melhores versões de um projeto de impacto.
Queremos encorajar a elaboração de tecnologias sociais emergentes. E não se faz isso sem rede de apoio, sem tempo livre criativo e recursos. O Tiago sabe bem.
Em junho, ele reuniu sua comunidade para conversar sobre um tema urgente, que chega pouco acessível às periferias: a sustentabilidade. Batizou de Virada Sustentável um encontro que reuniu parcerias para inspirar conversas com a população sobre gestão de resíduos sólidos, orgânicos, sobre as possibilidades de geração de trabalho e renda com o que a sociedade ainda entende como lixo. Mas não é. Não parou por aí.
Em meados de Julho, foi a vez de celebrar a ancestralidade negra feminina. Batizado de Quilombo Unificado, o encontro durou uma tarde inteira e convidou moradoras e moradores para honrar a memória de Tereza de Benguela.
E ao redor de sua história, conversar sobre as mulheres negras que são potência hoje, liderando a transformação nas periferias e favelas do Brasil. Saúde mental e autocuidado também entrou na conversa. O encontrou ganhou a imprensa.
Conversando com Tiago, você percebe uma coisa importante: a transformação acontece na troca de afeto e confiança entre as pessoas. Quando um evento acontece é só uma materialização desses laços e valores no mundo. Outro aprendizado nas trocas com ele é sobre como não deixar ninguém para trás. E sobre isso, ele defende:
“A valorização dos Artistas é importantíssima porque nos momentos quando a gente estava na estaca zero, as pessoas fortaleceram com seus tempos, talentos e equipamentos. Então, no momento quando a gente consegue recursos nada mais justo do que a gente lembrar daqueles que nos fortaleceram lá atrás”.
Para Tiago, circular os recursos financeiros é tão importante quanto andar ideias e ideais.
“A grana sempre é um dos desafios porque eu tenho a visão de que de todas as pessoas que vão fazer algum tipo de colaboração aqui dentro do nosso território precisam ser remuneradas”, finaliza.
As ações e atividades do Fim de Semana no Parque continuam, mas para saber você precisará voltar por aqui.