GSA 2019, Larissa Silvestri passou os últimos meses movimentando com a Rede GSA o que estuda e aprende na prática ocupando espaços decisórios relacionados à biodiversidade e clima. A formação, que ganhou o nome de “Aprendendo Sobre Incidência em Conferências Internacionais”, aconteceu de maneira remota e gratuita com quem passou pelo Programa GSA, o treinamento do Instituto Elos para formar lideranças transformadoras. Até aqui são 679 pessoas formadas pela Metodologia Elos, vindas de 57 países.
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Ao lado de Pâmella Nogueira, Larissa desenhou uma trilha de aprendizagem que entrelaçou desde a história da construção de espaços como a COP, a conferência do clima que reúne lideranças políticas e que em 2025 acontece em Belém, no Brasil -, até a entrega de mentorias para quem mostrou interesse em construir ativamente o debate climático a partir de seus países.
Para a advogada com experiência na área de direito ambiental, a Rede GSA tem uma contribuição única ao debate público pela sua diversidade cultural e de repertórios. “Acho que as discussões no ambiente do GSA faz termos acesso a pessoas, vivências, experiências e trocas essenciais para nutrirmos a atuação, incidência, mobilização, seja dentro de eventos internacionais, quanto de atuações nacionais e locais”, explica.
Para Larissa, essa riqueza cultural e de experiências que está no grupo é, justamente, o que faz com que suas contribuições sejam essenciais para tornar os debates sobre clima e sociedade mais ricos, diversos, verdadeiramente democráticos e em diálogo com a vida, a necessidade e os sonhos dos territórios. Para isso, defende que estar nos espaços, fazer parte das conversas, é só o começo da história.
“Eu acho importante que os GSA se unam para construir uma carta coletiva que permeie e desenhe a implementação das políticas, porque temos experiência de implementação de ações no território”, detalha, afirmando que “as políticas de hoje falham no desenho de implementação, na escuta da experiência de quem já vivenciou o milagre (Metodologia Elos), ou seja, a construção de algo do zero”.
Nessa entrevista, a GSA nos conta como foi pensar e desenhar a formação e aponta como ela já rende os primeiros frutos: “Temos um participante que foi selecionado para uma formação na ONU, e esta é uma semente que plantamos e que iremos colher muitos frutos ainda”.
Quero começar buscando entender como foi o Programa GSA para você. Sabemos que é uma experiência diferente para cada participante, não é?
Foi bastante intensa, porque estava num momento profissional conturbado, questionando as minhas escolhas, e como a profissão sempre foi um modo de vida para mim, de viver bem, naquele momento eu não estava feliz. O Programa GSA me fez repensar minhas escolhas e ver que era possível ir atrás de alguns propósitos.
Quando se inscreveu no Programa GSA, você esperava encontrar o quê na imersão?
Não sabia muito bem o que aquele movimento ia dar, nem sabia se ia dar em algo. Via pessoas lá tão certas do que queriam, sentia um cadinho de inveja delas. Mas tudo foi uma questão de tempo e paciência. Agora vejo que a Metodologia Elos me apoiou muito nesse olhar para dentro de mim, para ter um afeto comigo, um cuidado com meu tempo, que as coisas vão acontecer no seu tempo. E daí foram os aprendizados em saber celebrar minhas pequenas vitórias. Agora to neste caminho de re-evolução, olhar e o afeto. É um ciclo.
A diversidade tem sido lida como uma ameaça, um problema, ao redor do mundo. A Rede GSA e suas quase 700 pessoas, tão diferentes entre si, provam justamente o contrário disso. O que muda quando somamos experiências, repertórios e visões tão diferentes em favor do melhor mundo?
Adoro isso nessa rede. É muito importante alimentar essa troca, porque pode ser que algum GSA aí pelo mundo, esteja vivendo o que vivi e vice-versa, este apoio mútuo. Eu acredito que a Rede GSA é uma fonte interminável de conhecimentos, visões, culturas, vivências, experiências. Sempre que posso busco “beber” dessa fonte. Os GSA são muito solidários, pensam em comunidade.
E essas riquezas sociais e culturais se materializam em diferentes formas de fazer avançar o debate climático, correto?
Os GSA já possuem atuações em diversas vertentes que se interrelacionam com as Conferências do Clima, Biodiversidade e Desertificação e mais outros espaços políticos decisórios importantes. Também temos GSA que já tem larga experiência nestes espaços de decisão. Vibro no poder do coletivo, cada um com sua pauta, mas no fim do dia, que combinados sejamos mais potentes. Essas discussões no ambiente GSA faz termos acesso a pessoas, vivências, experiências e trocas essenciais para nutrirmos a atuação, incidência, mobilização, seja dentro de eventos internacionais, quanto de atuações nacionais e locais.
E essa participação, essa incidência, começa nos bairros, nas cidades. E vai se espalhando, não é?
Incidir localmente tem grande importância, porque é lá que as coisas acontecem, é no município que a Administração Pública, vai tomar medidas de adaptação e mitigação climática, os projetos e investimentos podem vir do Estado e da Federação, mas é ali no município que vemos as coisas acontecerem. Na capacitação focamos nas Convenções do Rio, mas era para destacar que essas Convenções influenciam e são influenciadas por Conselhos, Fórum, Eventos nacionais e internacionais.
Penso que todo espaço político deve ser ocupado pela sociedade civil, seja aquele que trata do corte de árvores da rua, ou aquele que falará sobre o financiamento climático, transição energética ou Plano de Ação de Gênero. Isso depende muito do que nós queremos, na real.
Você, inclusive, defende que a Rede GSA se posicione nos debates como uma comunidade, um movimento mesmo. Qual a importância disso?
Acho importante que os GSA se unam para construir uma carta coletiva que permeie e desenhe a implementação das políticas, porque temos experiência de implementação de ações no território. E tudo que as escritas políticas hoje mais falham é no desenho de implementação, na escuta da experiência de quem já vivenciou o milagre, ou seja, a construção de algo do zero, com pouco recurso financeiro, mas com grande participação coletiva e desejo fazer algo acontecer.
Penso que os GSA podem ser direcionados a essa atuação através de construção de capacidades como a que foi realizada. Com a sua riqueza de experiências, principalmente no território, influenciam positivamente nas conversas e rumos das negociações.
Gostou da experiência dessas trocas? Foi um longo caminho, que já tem dados seus primeiros frutos.
Quero dizer que fiquei muito grata de ter participado da construção desta capacitação e ver que o grupo que formamos está engajado e empolgado para ir a COP 30, além disso temos um participante que foi selecionado para uma formação na ONU, e que esta é uma semente que plantamos e que iremos colher muitos frutos, isto é, muitos GSA engajados e mobilizados na pauta climática e de biodiversidade, rumo às próximas COP e participações em Conselhos, G20 (Y20, W20, C20), Brics e muito mais. Quem sabe teremos mais formações como está no futuro.