Destino: Comunidade

Por Cecilia Zanotti
Quando a Val me ligou perguntando se eu poderia escrever sobre turismo comunitário, a primeira pergunta que me veio foi se eu era mesmo a pessoa mais adequada para escrever sobre o assunto, já que não estou atuando mais diretamente com isso. Ela disse que sim, que o texto serve como um mobilizador de outras comunidades que podem ver nisso uma oportunidade.  Aceitei então o convite com prazer, porque o Instituto Elos é uma dessas organizações que dá sempre muita alegria de estar por perto. Por admiração e por carinho no mínimo. Mas também pela seriedade, competência e pelo impacto que causam.
Comecei a relembrar o que nos últimos 9 anos me fascinaram e fizeram eu me envolver com o turismo em comunidades tradicionais e o que seria útil para lideranças de comunidades lerem sobre o assunto.
Para começar, para quem não sabe, turismo comunitário é uma maneira de se fazer turismo, onde o viajante entra em contato direto com a comunidade local. A grande diferença é que nesse caso, a comunidade é empreendedora e proprietária e participa da gestão do turismo na sua localidade e não apenas funcionária, de empreendimentos de terceiros. Na Bolívia, Equador, Nicarágua, Peru, em alguns países da África como Quênia, Moçambique, Zimbábue e no Brasil já existem experiências exitosas. Das experiências brasileiras se destacam comunidades ribeirinhas, caiçaras, quilombolas e rurais listadas no final do texto.
Do ponto de vista do viajante, o que fascina em uma viagem para as comunidades é estar em contato direto com a população local e com a natureza, em uma relação de aprendizagem.
Os viajantes com quem convivi nos roteiros estão dispostos a abrir mão de luxo, o que não significa desconforto, para conhecer projetos, assuntos, temas e visões de mundo diferentes das que usualmente têm contato. Portanto, um dos elementos fundamentais para uma comunidade pensar o turismo comunitário é levar em conta o conteúdo que ela vai trabalhar durante as atividades dos roteiros. Pode ser desde a maneira de confeccionar uma armadilha de pesca, passando pelo conhecimento sobre as propriedades das plantas medicinais e de massagens, por uma parteira, ou mesmo os projetos de manejo sustentável de recursos naturais como o açaí, camarão de água doce, e outros, a coleta de mudas da Mata Atlântica para reflorestamento, extração manual do óleo da andiroba, envolvendo todos seus mistérios, em respeito à natureza. As próprias histórias de vida, mitos e crenças da comunidade e sua relação com a natureza e com a espiritualidade despertaram muito interesse dos grupos.
No ano passado, participei do projeto Elos no Canteiro Mais Cultura, do Instituto Elos em parceria com o Ministério da Cultura e, a pedido do Elos, gravei um vídeo de cinco minutos sobre o que observar na comunidade que pode se transformar em riqueza e conteúdos para as atividades de um roteiro.
Basta acessar o link a seguir para ver:

Além do conteúdo, é preciso pensar também a forma como ele será passado para os viajantes. As atividades precisam ser de troca e diálogo. A realização somente de apresentações deixa uma sensação de vazio no viajante que quer conversar, participar e trocar. Portanto, é preciso pensar uma metodologia ou criar atividades de troca que realmente favoreçam o intercâmbio. Para ouvir uma história, é preciso pensar como essa história será apresentada, preparar o local, garantir o silêncio, fazer bem a roda para todos conseguirem se ver e ouvir, planejar o tempo de fala, sem ser muito longo nem curto demais, dar a voz aos outros participantes da roda no final, fazer a contação de histórias várias vezes para ela ir se aprimorando a cada visita e ter em mente uma maneira carinhosa de fechar a atividade, com um abraço ou outra forma para encerrar aquele momento. É preciso planejar atividade por atividade levando em consideração o que será passado (conteúdo), como será passado (forma ou metodologia), o tempo, quem será a liderança comunitária que fará a atividade, e que materiais serão necessários.
É muito  importante que no roteiro tenha pelo menos uma dupla da comunidade cuidando dos visitantes. Uma pessoa para cuidar do grupo, estar atenta se todos estão juntos, se podem ver e ouvir bem, analisar a reação dos visitantes e ter jogo de cintura para adequar o que estiver acontecendo. E outra pessoa para cuidar das atividades, ver se todos da comunidade que precisam estar lá, de fato estão no horário combinado, se os materiais estão organizados, se o local está preparado, e essa pessoa, enquanto o grupo está em uma atividade, já está com a cabeça na atividade seguinte para garantir um encadeamento bem feito e natural do andamento do roteiro.
Há materiais bacanas que podem ser acessados gratuitamente com mais informações sobre experiências no turismo comunitário. Um deles é a Série Turisol de Metodologias no Turismo Comunitário, com 6 volumes descrevendo com textos, fotos e depoimentos de lideranças, projetos bem sucedidos nessa área, abordando o que deu certo, bem como seus desafios. A Rede Turisol é a Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário e o material pode ser acessado em: http://www.turisol.org.br/turismo-comunitario/serie-turisol/
Em termos de desafios, que não podem ser ignorados, o principal deles certamente é a questão da comercialização para muitas comunidades. Portanto, a sugestão é que se pense o turismo sempre considerando parceiros que possam apoiar o envio de grupos desde a etapa embrionária da experiência. Não dá para esperar anos para que o roteiro esteja pronto e então comercializar. As chances de nunca ir nem sequer um grupo é grande nesse tipo de processo. Ao envolver parceiros desde o começo, há muito mais chance de sucesso. Universidades, secretaria municipal de turismo, cultura ou meio ambiente, parceiros estratégicos das comunidades, como empresas, se houver, os comerciantes locais, todos que possam apoiar a criação do roteiro e o envio de grupos e avaliar junto com a comunidade cada experiência para aprimorá-la pouco a pouco.
Outro desafio está na infraestrutura. Embora eu nunca tenha começado um projeto a partir da infraestrutura nas experiências que vivi, e sempre a partir do engajamento das pessoas, que é a base do sucesso de todos os processos de grupo, em algum momento será importante considerar a questão da infraestrutura principalmente em relação à alimentação, higiene no preparo dos alimentos, local adequado, etc… Vale a pena consultar as regras da vigilância sanitária e adequar à realidade local.  Em relação à hospedagem, se houver pernoite, é preciso garantir que os visitantes possam dormir confortavelmente. Mosquiteiros, lençol e manta limpos, camas, banheiro adequado, acolhimento pela família ou responsável pelo local e silêncio, tudo isso é importante ser pensado. Se não houver ainda como garantir uma boa noite de sono, considere não hospedar o visitante na comunidade.
Para conhecer mais sobre Turismo Comunitário, há alguns sites que não podem deixar de serem visitados. Boa leitura!
Um abraço,
Cecilia
 
Projetos, Redes e Comunidades:
www.acolhida.com.br
www.turisol.org.br
www.projetobagagem.org.br
www.saudeealegria.org.br/turismo/
www.pousadauacari.com.br
www.redetucum.org
www.fundacaocasagrande.org.br
http://quilombodoiti.blogspot.com/
 
Agências que atuam em parceria com comunidades:
www.turismoconsciente.com.br
www.aoka.com.br
www.tory.com.br
www.triponjeep.com.br
www.arariba.com

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