Katró, GSA 2022: Para transformar é preciso juntar uma galera. Ou juntar-se a uma

Transformando realidades: a contribuição do Hip Hop para uma Angola justa.
Leia em espanhol aqui.

Sempre sonhei com uma Angola justa, onde todos possuam os mesmos direitos sem necessariamente pertencer a um determinado grupo social, político ou religioso. Para isso acontecer era preciso que ocorresse uma transformação social. E eu comecei a buscar formas e mecanismos disso acontecer.

Depois de várias buscas e tentativas, eu percebi que era preciso juntar uma galera ou juntar-se a uma, já que se tratava de um sonho coletivo e não individual. Foi então que conheci o HIP HOP, em especial o MOVIMENTO HIP HOP TERCEIRA DIVISÃO. Um grupo de jovens que sempre usou a cultura e arte para educar e emancipar seus ouvintes na comunidade.

Estudar o  Hip Hop me fez entender que ele pode ser um instrumento de educação para a mudança social e com isso alcançar a Angola justa que eu sonhava. No movimento, a educação por meio da arte chamamos de o quinto elemento: o conhecimento de rua, inspirado nos Griots. Tal como Nelson Mandela disse: “A educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”. E eu quero mudar o mundo. 

O que é o Hip Hop

Para Henrique Muller, “o Hip  Hop  é  uma  expressão  cultural  multifacetada que tradicionalmente pode ser composta em quatro elementos: o grafite, enquanto artes visuais. O break e dance, que é a dança de rua. O Disc-Jockey  (DJ),  que é quem comanda os toca-discos e o Mestre de Cerimônia, MC, quem compõe rimas e poesias.

O “quinto elemento” é o conhecimento de rua, que envolve o reconhecimento da realidade histórica, cultural e social dos grupos oprimidos.

Crédito: Hip Hop Terceira Divisão

O que é o quinto elemento e como o usamos?

O conhecimento, quinto elemento do Hip Hop, é a base da educação formal e não formal. Ele tem como base o reconhecimento e a valorização do saber prático, experienciado, construído ao longo da sua vivência em sociedade. 

Através do conhecimento de rua os que nos antecederam produziram tecnologias sociais que podem ser usadas para impactar e transformar vidas, e o HIP HOP com todos seus elementos é uma destas tecnologias sociais.

Com essa base, o Movimento Hip Hop Terceira Divisão, em parceria com a universidade Hip Hop, criou o “Escola de Hip Hop” para que os jovens da nossa comunidade transformassem as suas vidas e realidades através da educação artística tal como nós. E trazer ao movimento novos fazedores e muni-los de conhecimentos práticos e teóricos.

Nesta escola entendemos que a educação para a transformação é aquela que permite que os indivíduos tenham consciência e conhecimento de que são sujeitos de direitos. Isto é, que possuem direitos garantidos por lei e podem exigir o cumprimento deles através da arte, em especial o HIP HOP para que eles assim como nós sejamos autores na transformação e realização desta Angola justa.

Crédito: Hip Hop Terceira Divisão

Eles podem ser sujeitos ativos na comunidade capazes de gerar essas transformações e impactar outras pessoas. Por essa razão temos oficinas de vários saberes práticos comunitários. Por exemplo, a medicina tradicional em que os jovens aprendem com os mais velhos como usar o que tem de recurso natural para curar enfermidades nas localidades onde não há hospitais públicos e privados.

O Break e o Dance na educação contra a criminalidade

Breakdance, o quarto elemento do Hip Hop, sempre foi utilizado como ducação popular alternativa para jovens não entrarem na vida do crime, isso desde a década de 1970.

Apesar de passarem-se vários anos, e atualmente o breakdance ser utilizado como meio de recreação ou competição no mundo, nós na Escola de Hip Hop e na comunidade ainda usamos como instrumento de educação para combater a violência e o crime.

Praticamos a filosofia da  não violência baseada em Gandhi a partir da dança. Entender como a dança é um instrumento de resistência e de descobrimento do nosso fazer no mundo. O lado filosófico da dança é sempre mais importante do que praticar a dança. O mexer do corpo é uma expressão do espírito.

Crédito: André Cupessala

A Roda de Dança

A roda da dança é o maior evento educativo alternativo da comunidade, que acontece de forma anual. É quando jovens que abandonaram o crime demonstram e dão seus testemunhos e aprendizados de como a dança foi importante para que eles se tornem cidadãos ativos.

A turma de Break e Dance tem mais de 40 praticantes, a maior parte deles vieram do mundo do crime e encontraram alternativas de vida através deste elemento da cultura Hip Hop.

Quem não é do movimento pode achar que o Hip Hop é apenas um gênero musical, mas não faz ideia de que sua cultura vai muito além da música. Ele tem elementos que podem ser usados em diversas áreas e podem ser aproveitados para gerar grandes mudanças sociais coletivas e individuais. 

O Hip Hop salvou-nos e continuará a salvar milhares de pessoas marginalizadas ao redor do mundo. O movimento hoje em dia dita o estilo de vida para muitas pessoas. É preciso entender seu contexto social, é o que dá sentido à performance.  


Este artigo foi escrito por
Katró Ungila, GSA 2022. Ele é um homem negro africano, natural de Angola. É professor, pesquisador, Hipphoer e membro executivo do Movimento Hip Hop Terceira Divisão-Angola. É especialista em Direitos Humanos e Desenvolvimento Comunitário. PanAfrikanista, pensador africa. 

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