Qual é a importância de participar dos conselhos? Juliana Campos explica

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É a Juliana Campos quem explica que a participação em conselhos é tão desafiadora quanto fundamental para garantir que as políticas públicas conversem, de verdade, com as necessidades das pessoas. No Instituto Elos, ela é uma das pessoas que se coloca em movimento nesses lugares.

Conselhos são espaços que discutem, fiscalizam e sugerem melhorias de uma área do serviço público. Por exemplo, na Saúde. Fazer parte quer dizer que você vai se juntar de tempos em tempos com várias pessoas para discutir se está tudo funcionando nas políticas como deveria em sua cidade. E se não estiver, como faz para mudar isso. Participam dos conselhos pessoas representando o governo e a sociedade civil. Ou seja, governantes. E você e eu. Quem tem interesse direto no assunto, quem usa aquele serviço.

“Conselhos são lugares para o tensionamento, no sentido de trazer conversas difíceis sobre o modelo ou funcionamento de uma política”, diz Juliana.

“Porque a ideia é que você encontre por lá da pessoa que usa o serviço a um representante do Ministério Público, por exemplo. Todo mundo junto”. Na prática, ela explica, isso ajuda a sociedade a pedir mudanças ou sugerir ideias novas. Em alguns casos, denunciar algum problema.

O ideal, ela defende, seria garantir condições para que a população possa estar nesses lugares. Não é o que acontece. Juliana conta que, muitas vezes, as reuniões são em horários em que as lideranças não conseguem ir. Como o Instituto Elos trabalha em parceria com muitos territórios, participar de conselhos é uma das maneiras de garantir que as necessidades desses lugares e pessoas sejam consideradas, levadas em conta.

“Nós temos algumas pistas dos desafios e necessidades que existem por conta da nossa proximidade, mas também por causa de ações como a pesquisa que fizemos. Então, vejo que cabe a nós também esse papel de levar esses pontos para esses lugares”, defende.

 Somos uma organização de educação social que fortalece a capacidade das pessoas de transformar sua realidade. Ou seja, construímos o ambiente e as condições para que as pessoas protagonizem a sua história. Estimular a ocupação dos conselhos é uma das muitas maneiras de se fazer isso.

Nosso trabalho ganha mais força e fica mais eficiente quando conseguimos ligar isso a contextos maiores, como por exemplo, às políticas públicas”, defende Juliana.

“Após irmos a uma comunidade e apoiarmos na construção de palafitas, por exemplo, é importante que a gente consiga abrir um canal em que essas moradoras e moradores possam sentar-se com o poder público para pensar nos próximos passos”. O nome Elos não é por acaso, como se vê.

Além do Conselho Municipal de Assistência Social, que Juliana participa, o Instituto Elos ocupa outros espaços de articulação dentro e fora dos espaços públicos.

Mirian Fonseca: quando acessamos um edital não precisamos acertar tudo de primeira

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Ao dizer isso, Mirian aponta um pedido de cuidado e acolhimento por parte dos financiadores com quem está no começo de sua caminhada no mundo dos projetos. GSA de 2019, ela é de Lauro de Freitas e atualmente mora em Salvador, na Bahia. É uma das oito apoiadas pelo Jovens Ideias em 2023.

Quando o Instituto Elos rodou uma pesquisa com a Comunidade GSA, que é como chamamos as pessoas que passaram por alguma edição do Guerreiros Sem Armas, descobriu, entre tantas coisas, que era preciso apoiar mais de perto ideias que, inspiradas de alguma maneira pela Filosofia Elos, brotavam entre os mais de 600 participantes espalhados pelo mundo.

A maioria dessas ideias enfrentavam o desafio do financiamento. Seja por estarem em fase inicial, seja pela complexidade da linguagem dos editais.

Mais que apoio a uma ação pontual ou a um projeto na comunidade da liderança GSA, o Jovens Ideias é a busca de um ambiente seguro em que as pessoas possam testar as suas hipóteses de transformação. Ou seja, apoio técnico e financeiro para pesquisar, elaborar, desenhar, testar, errar se for necessário, em busca das melhores versões de um projeto.

Queremos encorajar a elaboração de tecnologias sociais emergentes. E não se faz isso sem rede de apoio. É o caso do trabalho da Mirian.

“Quando saí do GSA, desenhei meu Caminho da Expansão pensando em como usar a Metodologia Elos para desenhar um espetáculo teatral ou processos de criação artística”, explica. Ela é formada em Direção Teatral na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia e tem pelo menos 11 anos de experiência em mobilização comunitária e desenvolvimento de projetos colaborativos.

Pensou que seria, sim, possível usar o que aprendeu em outros contextos e foi assim nasceu o Laboratório de Criação, uma iniciativa que usa as dimensões da Metodologia Elos (Potencial, Pertencimento e Protagonismo) para mapear recursos, talentos e sonhos com foco na reestruturação e reposicionamento institucional de coletivos culturais. O projeto piloto, apoiado pela chamada Jovens Ideias, será com o grupo oCartel, de artistas negros das periferias de Salvador.

“Quando perguntamos quais são os sonhos de um grupo, a gente consegue mapear o que precisamos pedir num edital, por exemplo”, diz Mirian, que aponta assim um pouco de como pretende costurar a relação da Filosofia Elos com o Laboratório de Criação.

“Muitas vezes a gente não consegue nem ter um Olhar atento para a nossa rede”, diz. Uma das etapas da iniciativa é justamente essa investigação dos talentos e recursos que estão por perto, e que a gente aciona pouco em nosso dia a dia.

Sai de cena aquele jeito linear e muitas vezes distante de investigar, organizar e estruturar as potências coletivas, para entrar um outro jeito de abordar os desafios institucionais, especialmente nos coletivos culturais. Um jeito mais horizontal, mais… coletivo.

Além de apoiar para que o grupo avance para um outro momento de sua existência e do seu trabalho, o Laboratório de Criação – Edição Cartel prevê uma série de entregas artísticas.

Além do Laboratório de Criação, o Jovens Ideias apoia o Saberes do Povo do Remanso (Lençóis, BA), Cocriando TRANSformações (Campinas, SP), Associa as Ações (São Vicente, SP), Quilombo GSA – Tereza de Benguela (nacional), Colorindo a Quebrada com Poesia (nacional), Museu dos Sonhos Vivos (Recife, PE) e o Fim de Semana no Parque (Cubatão, SP).

‘As pessoas precisam saber que não estão sozinhas’: nosso trabalho em rede com a Baixada Santista

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Primeiro, é preciso contar que a frase aí em cima é da Mariana Felippe, uma das gestoras de rede de articulação de territórios, que é: o encontro de lideranças da Baixada Santista com quem trabalhamos hoje ou em algum momento anterior.

No sábado, 27, esse grupo se reuniu pela primeira vez este ano. Eram 26 pessoas, de 5 cidades: Santos, Cubatão, Praia Grande, Guarujá e Peruíbe.

“Queremos construir um espaço seguro em que as lideranças possam trocar umas com as outras o que sabem e o que estão fazendo”, explica Natasha Mendes Gabriel, coordenadora de Movimento, área responsável por esse projeto dentro do Instituto Elos.

Ela conta que essas pessoas, que estão todos os dias na linha de frente do trabalho social, enfrentam desafios parecidos, passam por situações parecidas e muitas vezes não tem um lugar para falar sobre isso, para trocar sobre isso. E é aqui que a Mariana aparece, de novo.

“A gente percebe”, diz, “que existe um sentimento de solidão bem forte entre essas lideranças. Elas fazem muitas coisas sozinhas, sentem que não há um reconhecimento sobre o seu trabalho ou que as pessoas não entendem completamente o que estão fazendo. Além disso, existe muita pressão vinda de todos os lados. Quem apoia?”, analisa Mariana. Por isso e para isso que esse trabalho de articulação com territórios da Baixada Santista existe, me explica:

“Quando estamos juntas podemos compartilhar as dores, os desafios e as soluções que cada lugar encontrou. É preciso juntar as pessoas para que elas saibam que não estão sozinhas fazendo o que fazem”.

Esse projeto nasceu de uma pesquisa do Instituto Elos, ainda em 2022. Na época, a área de Movimento entrevistou lideranças para traçar perfis, entender a natureza de seus trabalhos, os desafios de cada território e como o Instituto Elos poderia ser um aliado estratégico de médio e longo prazo. Existir um espaço de troca e formação apareceu como uma necessidade durante as entrevistas. O estudo será contado em breve por aqui.  

NINGUÉM SABE MAIS, SABEMOS DIFERENTE

“O encontro foi muito importante para mim”, diz Elizabeth Alves. Ela mora na Vila Israel há 8 anos, uma das primeiras moradoras do lugar. “É importante contar o que estamos fazendo, mas também escutar o que as outras comunidades fazem, sabe. Assim, a gente aprende uns com os outros”.  O José Domingos pensa bem parecido, veja:

“Porque você pode trazer uma ideia que escutou lá no encontro para a sua casa, que vai agregar ali no seu território. Muitas vezes você está trabalhando numa direção, aí descobre que não é a melhor em momentos como esse que tivemos “. Domingos, que mora há 22 anos em Pilões, diz que “o Elos faz muito bem isso, de colocar as lideranças para conversar. O Elos é igual uma ponte”. Gostamos dessa imagem, Domingos.

Além da Vila Israel e de Pilões, estiveram no encontro lideranças da Vila Pantanal, Vila dos Criadores, Monte Serrat, Vila Esperança, Instituto Novos Sonhos, Biblioteca Comunitária Conto de Fadas Periférico, Editora Periferia tem Palavra e do Coletivo de Mulheres Caiçaras.

Próximos Movimentos

Os encontros serão regulares, daqui até dezembro. Para o próximo, o Instituto Elos vai detalhar o que descobriu com a pesquisa comunitária. Será também o momento de mapear os interesses em comum para a construção de uma agenda de estudos e trocas ao longo do ano.

 

enraizamento: a importância da participação coletiva no trabalho comunitário

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Simone Weil, filósofa francesa que estudou o desenraizamento operário, apresenta três elementos desenraizantes presentes na experiência do seu trabalho na fábrica: o medo, o cansaço e a sujeição.

estes mesmos elementos podem ser percebidos na vivência comunitária.

o  desenraizamento, explica Eclea Bosi, psicóloga social que coordenava o Laboratório de Memória e História Oral Simone Weil na Universidade de São Paulo, é a “ignorância do trabalhador em relação ao destino das coisas que fabrica”. ou seja, quando uma pessoa se vê fragmentada, alienada da sua própria história, da sua realidade, do seu destino, ela está desenraizada.

desde 2014 atuo na área de desenvolvimento comunitário no Instituto Elos.  a experiência em um dos
projetos me impulsionou a aprofundar algumas reflexões e decidi fazer o mestrado na área da psicologia social para buscar respostas às minhas inquietações. as moradoras do Residencial Jardim Bassoli, em Campinas, São Paulo, traziam  depoimentos sobre os processos de saída da antiga moradia e de chegada no residencial que demonstravam a existência daqueles fatores desenraizantes descritos por Simone Weil.

as 2380 famílias que viviam no bairro foram removidas de suas antigas residências com a alegação de que viviam em áreas de risco – ameaçadas por enchentes, alagamentos, etc.

a sujeição foi vivida por essas pessoas quando o poder público bateu à porta e avisou: “você vão ter que sair”, sem espaço para diálogo ou entendimento dos motivos para a obrigatoriedade de ter que se deslocar para um novo bairro, completamente desconhecido, para viver lado a lado, acima ou abaixo de pessoas também desconhecidas vindas de diversos outros bairros da cidade.

o cansaço foi sentido devido o deslocamento por mais de duas horas entre o local de trabalho e a moradia, considerando os 23 quilômetros que separam o Jardim Bassoli do centro de Campinas e a falta de linhas de ônibus e terminais de integração.

já o medo esteve presente a partir da forma como as pessoas foram tratadas desde o início do processo de remoção: um número. 

cada família foi contada como uma das duas mil trezentas e oitenta famílias, não importando se em uma delas são duas pessoas, três ou sete.  se em uma delas tem uma mãe com um bebê recém nascido ou uma senhora cadeirante.

a reificação, que é a transformação de pessoas em objetos, faz com que dramas humanos virem números. assim como a operária é só uma unidade na força de trabalho dos estudos de Simone Weil .

“A gente não conta, mal existe”, escreveu. a moradora também não conta, mal existe. é só um número.

um projeto de desenvolvimento comunitário realizado neste tipo de território, onde as pessoas passaram por uma experiência intensa de desenraizamento, precisa ter a sensibilidade de promover a escuta atenta, pois antes de começar a sonhar com o futuro, é preciso ouvir, ouvir, ouvir e convidar as pessoas a compartilharem suas histórias em espaços de escuta coletivos.

é importante que as moradoras reconheçam que não são apenas um número. que elas fazem parte de um grupo de pessoas que passou pelas mesmas experiências.

conforme os encontros comunitários vão acontecendo, e as pessoas se sentem acolhidas e pertencentes, é possível iniciar a construção de uma visão partilhada de futuro para o novo bairro.

um primeiro ponto que precisa ser destacado é: ao participarem de encontros comunitários as moradoras descobrem que não estão sozinhas, que existem outras pessoas, suas vizinhas, que também querem se colocar em movimento para transformar a comunidade: .

“Nossa, depois que o mutirão da praça aconteceu aquilo me motivou a fazer muito mais. Não é só ali que precisa, tem outros lugares, tem outras coisas para se fazer. Então a gente pensa assim: ‘nossa, aquele lugar  está tão abandonado’ se a gente ficar esperando pelo pelo órgão público, a prefeitura vir fazer, só que eles vão fazer de qualquer jeito, então é melhor a gente ir lá fazer. Aí vai, publica lá no grupo, vê quem tá disponível para poder ajudar e tal, sempre tem alguém disponível. ‘Então, vamos fazer?’, ‘Vamos fazer!’” É legal isso, né?! Essa parte de que não tem só você que olha daquele jeito, tem muito mais gente que vê do mesmo jeito que você. E gosta do lugar que mora e quer ver diferente.”

Fabiana, moradora do Jardim Bassoli

outro ponto importante de ressaltar é o desenvolvimento da autoconfiança a partir das atividades em grupo. quando a moradora percebe que seu projeto pode dar certo, que ela não está sozinha, ela se sente segura, inclusive para falar e contar para mais pessoas sobre as atividades que está realizando:

“Eu lembro que quando vocês tavam naquela primeira praça falaram: ‘Renata, vamos dar uma entrevista?’ Aí eu falei: [ela sacode a cabeça negativamente], mas é por acanhamento, mesmo, né?! Mas hoje eu já consigo falar um pouco da gente, do nosso projeto, tá só começando, né, mas os nossos sonhos estão sendo realizados.”

Renata, moradora do Jardim Bassoli

as relações de amizade que se desenvolvem e fortalecem a partir dos encontros comunitários e atividades coletivas transformam a vida das pessoas e o lugar onde elas vivem.

“Quando eu vi falei ‘pô, vou ajudar’. Senti vontade de ajudar, de dar o máximo de mim nos poucos dias em que eu pude ajudar. Sou muito grato ao projeto por ter olhado pra nós e ter essa visão positiva do bairro. Tem muita gente que olha para o Jardim Bassoli como um lugar negativo, já eu não. Faz cinco anos que eu moro aqui e sempre tento ver por um lado positivo. Até agora é o lugar que eu tenho para viver e se um dia eu sair daqui eu quero lembrar daqui como um lugar bom. Eu conheci muita pessoa boa aqui durante o mutirão: o time do talento, até meus vizinhos que a gente não tinha afinidade. Através do projeto eu ganhei vários amigos.”

Idrênio, morador do Jardim Bassoli

segundo o pesquisador José Moura Gonçalves Filho (2003, p. 223, grifos do autor): “a amizade representa a igualdade e, mais precisamente, a parceria na igualdade.” essa noção de amizade revela “a necessidade que temos de convivência comunitária para crescermos na experiência de enraizamento no mundo” (SVARTMAN; GALEÃO-SILVA, 2016, p. 341). 

comunidade, dessa forma, pressupõe relações de vizinhança igualitárias, o sentimento de amizade política, quando pessoas diferentes se encontram de igual para igual, e vivenciam práticas que estimulam o fazer coletivo. Simone Weil relata a experiência da greve na fábrica e conta sobre a alegria que ela e as demais operárias vivenciaram:

“Sim, uma alegria. (…) Que alegria entrar na fábrica com a autorização sorridente de um operário que vigiava a porta. Alegria de encontrar tantos sorrisos, tantas palavras de acolhimento fraterno. (…) Alegria de dizer o que está no coração para todo mundo, chefes e colegas, nesses lugares onde dois operários podiam trabalhar meses seguidos, lado a lado, sem que nenhum dos dois soubesse o que o vizinho pensava. (…) Finalmente, pela primeira vez, e para sempre, haverá em torno destas máquinas pesadas outras lembranças flutuando, e não só a do silêncio, da opressão, da submissão. Lembranças que põem um pouco de orgulho no coração, que deixarão um pouco de calor humano em cima de todo esse metal.” (WEIL, 1979, p. 106)

experiências de participação comunitária contribuem para o enfrentamento dos sentimentos de sujeição, medo e cansaço e para a promoção do sentimento de alegria, estimulando o enraizamento, caracterizado pela filósofa francesa como

“(…) a necessidade mais importante e mais desconhecida da alma humana e uma das mais difíceis de definir. O ser humano tem uma raiz por sua participação real, ativa e natural na existência de uma coletividade que conserva vivos certos tesouros do passado e certos pressentimentos do futuro.” (WEIL, 2001, p. 43).

o bordão repetido insistentemente em diversos encontros comunitários “a união faz a força” não é só uma fala, é uma ação, e é coletiva.

a transformação do residencial Jardim Bassoli em uma comunidade se deu a partir da participação das moradoras nas ações coletivas, quando elas decidiram enraizar-se nesse local e lutar por fazer dele o melhor lugar para se viver, não somente para elas, mas para todas as pessoas que vivem lá.

referências bibliográficas:

BOSI, Ecléa. O Tempo Vivo da Memória: Ensaios de Psicologia Social. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 

GONÇALVES FILHO, José Moura. Problemas de método em Psicologia Social: algumas notas sobre a humilhação política e o pesquisador participante. In: BOCK, Ana Mercês Bahia. (Org.),
Psicologia e compromisso social. São Paulo: Cortez, 2003. 

SVARTMAN, Bernardo Parodi. & GALEÃO-SILVA, Luís Guilherme. Comunidade e resistência à humilhação social: desafios para a psicologia social comunitária. Revista Colombiana de Psicologia. Bogotá. v.25, n.2, p. 331-349, 2016. 

WEIL, Simone. O enraizamento. Bauru, SP: EDUSC, 2001. 

A condição operária e outros estudos sobre a opressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

Crédito: Paulo Pereira

Clarissa Borges é GSA 2012, graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Santa Maria (2010) e mestra em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (2021).  desde 2014 atua como mobilizadora social e facilitadora de grupos em projetos de desenvolvimento comunitário. nas horas livres utilizo o bordado para descansar a mente e como ferramenta de luta na militância feminista, antirracista e pela visibilidade LGBTQIAP+.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Instituto Elos.

Conheça o Programa Geração GSA!

As juventudes – assim, no plural – são muitas e diversas, no Brasil e no mundo. O tempo passou e muita coisa se transformou desde a década de 1980. Os desafios sociais não são os mesmos. As soluções e o perfil de quem as lidera, também não. Se por um lado existe muito potencial, por outro, ainda existem diversos obstáculos a serem enfrentados por uma nova geração de lideranças que vem se formando.

De acordo com o Atlas das Juventudes, uma iniciativa do Em Movimento e do Pacto das Juventudes pelos ODS, “com o avanço da pandemia, a situação se tornou ainda mais grave, ampliando os índices de jovens sem oportunidades de trabalho e também da evasão escolar, com uma parcela significativa da população sofrendo impactos em seu processo educacional. Para além destes pontos, é inevitável ressaltar o agravamento das desigualdades sociais e de acesso à serviços essenciais, dos impactos na saúde mental de jovens, na segurança alimentar e também na segurança pública.”

Diante deste contexto, decidimos criar uma experiência para os jovens “um pouco mais jovens”, entre os 15 e 17 anos. Um programa exclusivo para essa faixa etária e que agora apresentamos para vocês em primeira mão: o Geração GSA!

O Geração GSA foi desenhado para acolher as necessidades e interesses dessas juventudes que serão as lideranças do nosso futuro. Vamos oferecer uma jornada com atividades de autoconhecimento, promover a construção de vínculos, o contato com realidades sociais desafiadoras e a possibilidade de colocar a mão na massa para realizar ações práticas de transformação junto com uma comunidade.

“Queremos fortalecer nessa geração a consciência de responsabilidade social e a percepção de seu próprio potencial, individual e coletivo, para atuar no mundo”, nos conta Mariana Gauche, cofundadora do Instituto Elos.

Acreditamos que é possível transformar o mundo e sabemos que, para isso, é essencial escutar e dialogar, engajar e mobilizar toda a sociedade na construção do futuro mais próspero. E você?

Contamos com seu apoio para espalhar essa novidade! Se quiser saber mais sobre o programa e/ou indicar jovens, acesse o formulário e preencha os dados. Em breve entraremos em contato com uma data para a reunião de apresentação do programa para as famílias.

Saiba mais também sobre o Guerreiros Sem Armas.

Jully Neves: o poder das iniciativas na promoção da diversidade e inclusão

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A origem da palavra utopia é grega e quer dizer “não lugar”. Ou seja, um lugar que não existe.

Quando vejo essa definição lembro da época que meu sonho era transformar o mundo. Eu queria ser uma pessoa que marcasse a história. Pensei nisso por anos, apesar de nunca ter comentado com ninguém. Agora penso diferente. Por qual motivo mudei de opinião, esse sonho deixou de existir? Lá, no fundo, ele existe ainda, mas hoje é diferente. Transmutou.

Entendi que somente por meio do coletivo que uma utopia pode tornar-se realidade.

Quando falamos sobre diversidade, inclusão, direitos humanos, igualdade e demais temas relacionados, a utopia é a idealização de um mundo em que esses valores são parte intrínseca da sociedade.

Um mundo justo, em que todas as pessoas são valorizadas e respeitadas independentemente de raça, gênero, orientação sexual, deficiência, religião ou qualquer outra característica.

É a partir dessa ideia que podemos pensar em um futuro melhor e trabalhar coletivamente para alcançá-lo.

A comunidade é um importante elo na luta pela inclusão e pela igualdade. Por meio do diálogo e da cooperação, é possível promover iniciativas que permitam a abertura e ampliação de discussões sobre temas importantes e fundamentais para garantir uma sociedade mais justa e igualitária.

Essas comunidades podem ser formadas ONGs, coletivos e empresas, que se unem em prol de uma causa em comum. O papel dessas organizações é fundamental porque elas conseguem dar visibilidade para os temas relacionados à diversidade e criar engajamento da sociedade a favor dessas pautas.

Cada pessoa tem um papel fundamental a desempenhar, seja por meio de atitudes diárias, seja por meio de engajamento em movimentos sociais, organizações privadas, públicas, entre outros espaços. Sim, é um trabalho árduo, mas que vale a pena, pois ele se traduz em um mundo melhor para todas as pessoas.

Quanto à diversidade, inclusão e pertencimento podemos conceituar da seguinte forma:  a diversidade é a representação de diferentes pessoas, inclusão é garantir que todas as pessoas tenham oportunidade e pertencer é garantir que todas as pessoas se sintam seguros e valorizadas. Mas como promover  a diversidade, inclusão e pertencimentos nas empresas, por meio de leis, entre outros espaços e ações?

A diversidade e inclusão deve ser vista como uma vantagem e uma riqueza.

Para promover e adotar mudanças reais nos espaços é preciso que as pessoas tomadoras de decisão por via letramento, isto é, treinamentos, palestras e mentorias,  e também por via de manuais informativos. Assim como também a participação representativa nos cargos de gerência, nas oportunidades, nas remunerações justas.

Uma cultura organizacional acolhedora é aquela que valoriza e respeita as pessoas, oferecendo um ambiente de trabalho seguro e confortável.

Quando as pessoas se sentem acolhidas, elas tendem a ser mais engajadas e produtivas, além de permanecerem mais tempo nos espaços. Um departamento específico para lidar com pautas ligadas à diversidade e inclusão é fundamental para promover essas pautas. Esses são alguns caminhos para promover a diversidade e inclusão.

É necessário que as pessoas estejam abertas ao diálogo e dispostas a aprender com as diferenças. É preciso também que haja a cultura da empatia e o respeito ao diferente, entendendo que cada pessoa é única e tem suas particularidades. Conflitos são inevitáveis, mas existem maneiras de lidar com eles de forma consciente e construtiva.

O mundo será um lugar muito melhor se conseguirmos viver em uma sociedade justa e realmente igualitária. Infelizmente, a realidade é outra e o preconceito e a discriminação ainda afetam muitas pessoas. A busca por um mundo mais justo é um compromisso que deve ser de todas as pessoas. E isso só será possível com ações e medidas concretas que promovam a inclusão e a igualdade.

A iniciativa através da coletividade para romper com os rótulos, preconceitos e medo abrem oportunidades para construirmos nossas utopias juntes por um mundo justo, próspero e solidário para todas as pessoas.

Ufa, ainda bem que as utopias existem.

Esse artigo foi escrito pela Jully Neves , GSA de 2017 –  ela recifense bairrista, praticante de arquearia e boxe chinês, uma apaixonada por praia e pirão. É uma mulher negra, LGBTQI+, neuroatípica, periférica e nordestina. Possui formação em administração, direitos humanos e certificação em Metodologias Ágeis. Trabalha como consultora em Diversidade e Inclusão e gestão de projetos sociais. Para ler mais artigos da série, clique aqui.

Visita de Inspiração como ferramenta pedagógica

A Visita de Inspiração é uma ferramenta pedagógica utilizada nos mais diversos projetos do Instituto Elos. Quando o foco é desenvolvimento comunitário, levamos grupos de moradoras para conhecer comunidades que estão nesta jornada há mais tempo. Em projetos de ensinagem para jovens lideranças o foco é conhecer projetos liderados por juventudes em outros territórios, considerando os desafios específicos de cada local, mas também há pontos em comum quando se trata de ser jovem e líder, ao mesmo tempo.

Na Visita de Inspiração promovemos uma roda de conversa entre comunidade anfitriã e comunidade visitante, na qual as seguintes perguntas são respondidas: Quais caminhos foram percorridos? Quais desafios foram enfrentados? Quais estratégias foram utilizadas para encarar estes desafios? Quais conquistas foram alcançadas?

Além disso, a Visita de Inspiração busca estimular a articulação entre diferentes comunidades e pessoas que percorrem jornadas semelhantes, a fim de compartilhar aprendizados e experiências de um local para outro. Quem anfitriona sempre está, pelo menos, um passo à frente de quem está visitando, podem ser meses ou anos de experiência no processo de desenvolvimento comunitário e/ou de liderança. 

Enquanto ferramenta pedagógica, a Visita pode se inserir em duas etapas da metodologia Elos. Na etapa do Cuidado, que é quando, após definir quais serão os sonhos coletivos que a comunidade quer realizar em um mutirão comunitário, é construída uma maquete que dá forma a estes sonhos e são definidas as estratégias de captação de recursos e materiais para a viabilização destes sonhos. Neste momento, realizar a Visita de Inspiração atende a necessidade de mostrar à comunidade visitante o que pode acontecer quando as pessoas de um determinado local se unem e colocam a mão na massa juntas para realizar o que sonham.  

Outra possibilidade é realizar a Visita de Inspiração na etapa da Re-evolução, momento no qual a comunidade já realizou a experiência de materializar um sonho coletivo e está planejando novos projetos. A visita neste momento é uma oportunidade de inspirar as juventudes e grupos comunitários a darem novos e maiores passos. 

Visitas que transformam vidas

Os depoimentos que recebemos de grupos comunitários e jovens que participam das visitas costumam ser muito positivos e refletem o quanto a experiência é impulsionadora. 

“Eu tô muito feliz, eu aprendi muito. Essas pessoas que estão aqui, que eu conheci. A Vivi deu uma aula pra gente agora há pouco e eu tenho certeza que todo mundo vai levar isso. Mesmo se eu ficasse aqui a tarde inteira, a semana inteira, eu não iria achar palavras pra expressar a emoção que está aqui dentro. Só a gente vivendo mesmo. Até porque eu acho que se eu contar para alguém não vai ser igual. A gente tem que vir e viver esse dia.” Maria Garcia – moradora do Residencial Sirius (Campinas-SP) após visita realizada ao Instituto Favela da Paz no Jardim Nakamura (São Paulo-SP), em 2017. 

Ariane Mates: criando uma comunicação visual incrível para o seu projeto

Como usar a comunicação como força impulsionadora do mundo em que vivemos rumo ao mundo que sonhamos?

Sempre me orientei pelas seguintes perguntas em meu trabalho no Instituto Elos: como fazer com que a nossa comunicação seja tão linda, incrível e transformadora quanto o que fazemos em nosso dia a dia com jovens, lideranças e grupos de pessoas no Brasil e ao redor do mundo?

Como trazer força e visibilidade para o trabalho, ao mesmo tempo em que convidamos mais pessoas para este movimento de aprendizagem, respeito, liberdade, alegria, relações genuínas, consciência, construção coletiva, fortalecimento de comunidade e esperança?

E também: como usar a comunicação como força impulsionadora do mundo em que vivemos rumo ao mundo que sonhamos?

Durante esses 12 anos aqui , cheguei a conclusão de que a linguagem visual do Instituto Elos, além de limpa, precisa ser bela e inspiradora para, genuinamente, atrair pessoas para esse nosso movimento de transformação, onde cada pessoa é importante e necessária.  

Minha ideia hoje é produzir uma comunicação para criar curiosidade, confiança e para convidar quem ainda está fora a construir com a gente por aqui. Para isso, eu acredito, precisamos de uma linguagem inclusiva e afetiva, por meio de imagens e palavras que constroem a nossa comunicação visual.

Sinto que é muito importante cativar com imagens de ações reais, com pessoas interagindo, a distância de um abraço, olho no olho, no momento em que estão altamente engajadas na construção coletiva dos espaços, das relações e do mundo que sonham. 

Por isso, valorizamos muito as parcerias com fotógrafos e videomakers que nos ajudem a captar, por meio de um olhar sensível e atento a abundância que existe em cada lugar, tudo que o nosso trabalho tem de melhor para oferecer.

Trabalhamos por uma comunicação que toque no coração das pessoas.

O Elos tem as suas origens na arquitetura e é fruto de um encontro de estudantes que quiseram exercer a profissão de um modo diferente – de um jeito mais acessível, coletivo e humano. A serviço da construção de um mundo baseado naquilo que as pessoas realmente sonham.

O design gráfico e a comunicação visual fazem parte do processo de organizar essas ideias, esses valores, toda essa crença e comunicar para engajar pessoas.

Por aqui buscamos inspiração nos saberes tradicionais, nas coisas feitas a mão, mas também casando isso com o mundo tecnológico e das mídias digitais que fortalecem o trabalho num nível global e em rede. Transitamos entre esses dois mundos do manual/presencial e do analógico/digital, buscando contar histórias relevantes e transformadoras.

5 dicas preciosas para você pensar a comunicação visual da sua iniciativa.

1) Antes de tudo, entenda qual é a razão de ser da sua iniciativa. Entenda qual é a mensagem que você quer transmitir. Saber isso é o primeiro passo de tudo. Mas se não souber logo de cara, comece a se colocar em ação atento à isso e vai refinando ao longo do caminho.

2) Pense nos seus públicos e como você quer que a sua mensagem chegue a eles. Procure deixar sua comunicação convidativa para as suas principais audiências.

3) Crie a marca da sua iniciativa.  Normalmente, a logomarca é feita de texto e símbolo, então, escolha um nome forte e um símbolo ou elemento visual para represente bem a sua iniciativa.

4) Construa a sua identidade visual. Faz parte dessa identidade, o conjunto de elementos gráficos que você usa para criar peças de comunicação, tais como cores, tipografia, fotos, texturas.

5) Defina uma paleta de cores. Usar sempre as mesmas cores ajuda a criar uma consistência na sua comunicação. Uma identificação.

Agradeço todo o aprendizado ao longo desses anos. Tem sido uma bela jornada de muitas trocas e muita construção. Como designer gráfico, valorizo muito as parcerias e amizades que serviram para me inspirar ao longo desse processo de crescimento e amadurecimento como profissional da área.Vai aqui um agradecimento especial para as pessoas que compartilharam seus conhecimentos e talentos comigo e deixaram uma contribuição especial desse universo da comunicação visual: Andreia Marques, Val Rocha, Rodrigo Rubido, Mariana Motta, Natasha Mendes Gabriel, Thaís Polydoro, Paulo Von Poser, Mila Motomura, Paula Dib, A galera do Ateliê Arte Nas Cotas, a galera do Criqué Caiçara, Ricardo Oliveros, Bruno Matinata, Joana Lira, Eliza Capai, Paulo Pereira, Isabela Senatore e Henrique Neves.


Esse artigo foi escrito pela Ariane Lopes Mates, GSA de 2007 – ela é arquiteta pela California College of the Arts, trabalha no Instituto Elos como designer gráfica desde 2010, onde desenvolve e coordena a comunicação visual da marca e de produtos gráficos institucionais, como o Jogo Oasis e os materiais do programa Guerreiros Sem Armas nas edições de 2011 a 2023. É responsável pelo banco de imagens  e pela diversidade de produtos,  incluindo relatórios institucionais, publicações, materiais pedagógicos e apresentações.

GSA em Movimento: O Olhar de Sérgio Luciano

O Olhar de Sérgio Luciano

Foi aos 5 anos, um pouco mais ou um pouco menos. O Sérgio Luciano correu para se esconder atrás de uma cortina, os pezinhos descobertos anunciando onde estava, bem na sala de casa. Sérgio morava em Barbacena, Minas Gerais, isso foi muito tempo antes de participar do Guerreiros Sem Armas, em 2014. Quando era criança, ele contou, avisaram assim nos noticiários:

“Uma pessoa evadiu-se hoje do Manicômio Municipal. Recomendamos atenção”. Ou alguma frase parecida com essa.

E foi aí que o pequeno Sérgio ficou mesmo atento. Tanto, que percebeu rápido que a pessoa que andava mundo afora entrou bem na cozinha da sua casa, sua mãe estava por lá. Se encontraram na porta.  Foi neste momento que ele correu para atrás de uma cortina que cobria quase o corpo  inteiro, só os pezinhos do lado de fora; as crianças são assim, cobrem os olhos, acham que esconderam a existência inteira.

Essa é a lembrança que o Sérgio convoca todas as vezes em que busca costurar os motivos e as motivações para fazer o que faz, para levar a vida que leva.  Fundou ao lado da Laura Claessens, companheira de vida e de propósito, a Colab Colibri, que busca apoiar o mundo para uma comunicação consciente. Mas essa história vem daqui a pouco. Os pontos a gente liga olhando pra trás.

Sua mãe estava na cozinha, olhando para o olhar daquela pessoa que ainda vestia uma roupa larga e branca, com uma caneca na mão. E o pequeno Sergio estava ali também, escondido, atento a tudo como se aquele encontro fosse um filme da TV.  E ele estivesse assistindo.

O primeiro movimento da mãe, a mão no ombro do homem, um convite para ele ir ao quintal, e nada. Não quis. No segundo movimento o homem aceitou, caminharam. E foi aquilo que educou o olhar de Sérgio até os dias de hoje. Ele acredita que para essa vida inteira.

“Minha mãe buscou uma outra abordagem. Pegou um biscoito e um pouco de leite, ofereceu. Passaram a conversar, sabe, ela quis saber de verdade como aquele homem estava se sentindo, o que tanto procurava. Andaram, sentaram-se do lado de fora da casa. Esperaram meu pai, que estava perto”, contou.

Foi assim que o Sérgio entendeu, na prática, que mudar o olhar sobre os lugares, as coisas e as pessoas, transforma tudo ao nosso redor. Para fora e para dentro. Feito o que sua mãe fez. O mundo insistia em perceber aquela pessoa de um jeito, a mãe a percebeu de outro. Acolhimento, respeito, atenção e intenção para este encontro.

“Desde então”, e sobre isso ele só pensou anos atrás, “eu olho a sociedade como um lugar em que todo mundo quer colocar uma ‘camisa de força’ no outro ao invés de oferecer escuta,  de ser inclusivo de verdade”, defende.

“Ao invés de olhar as pessoas como uma polarização constante, eu passei a olhar cada um com  os seus próprios desafios, suas questões, que são diferentes da minha. Que é justamente o que torna este indivíduo único e interessante”. 

Uma forma de explicar o seu trabalho hoje é assim: é preciso criar espaços seguros para que as pessoas se encontrem, construam, se acolham. E lugares assim pedem pessoas dispostas a negociar antigas formas de olhar o mundo.

Sérgio aprendeu, e defende, que é preciso ler as pessoas e os lugares para além dos julgamentos, para além do que o olhar apreende da realidade.

“A violência não começa na atitude, mas no jeito de pensar”, disse durante a conversa.

Existe uma série de preconceitos dentro de nós prontinhos para saltar na frente da boca, antes da primeira palavra, dizendo coisas assim, assim que chegamos: aqui só tem pobreza, aqui não tem esperança nem pessoas talentosas. Aqui falta tudo.

“O Olhar vem deste lugar: perceber o que está para além daquilo que é julgamento, para além da superfície, para além do óbvio. Porque no campo do óbvio, eu segmento rapidamente entre o certo e o errado”. 

“Entrar nas conversas, nas relações e nos lugares se colocando disponível para trocar de óculos sempre que necessário é o que nos faz ver coisas onde muita gente já desistiu”. Os óculos aqui, defende Sérgio, são as nossas crenças, o que constrói as identidades de cada um. Existem mil maneiras de ver a mesma coisa.

Na página de Colibri, um resumo prático não só de crenças e valores de Sérgio e Laura, mas das teses que  ele defende. Perceba os nomes dos cursos: Democracia Profunda: a arte de escutar todas as vozes; Desconstruindo Imagens do Inimigo; Treta, da Polarização ao Diálogo, e por aí vai. 

Tudo que ele entrega ao mundo é sobre uma mudança de olhar sobre o que a sociedade já cristalizou como verdade: nem todos tem realmente com o que contribuir; inimigo se combate, não se dialoga; eu não me sento à mesa com quem pensa diferente, e por aí vai.

Quando se entra nas situações com determinadas lentes, se entra já capturado pela situação, a primeira pérola que ele soltou foi essa. A gente tem mais lentes do que aquelas que usamos no dia a dia, foi a segunda. A terceira foi um bom resumo de tudo, um bom jeito de terminar essa conversa: eu preciso aprender a ler as coisas para além dos nossos próprios julgamentos.

GSA em Movimento é uma série especial que irá passear por todas etapas da Filosofia Elos: Olhar, Afeto, Sonho, Cuidado, Milagre, Celebração e Re-Evolução, a partir da pessoas participantes do programa Guerreiros Sem Armas – GSA. A segunda reportagem será publicada em 2 de março.

Integração Metodologia Elos e extensão universitária no fortalecimento dos ODS

Programa de Extensão

Programa de Extensão

A parceria do Instituto Elos com o grupo Ânima Educação, que engloba mais de 390 mil estudantes e 18 mil educadores e educadoras, levou a metodologia Elos para potencializar o Programa de Extensão universitária. A iniciativa foi implementada por meio de uma assessoria técnica que esteve envolvida diretamente com docentes das instituições e também com oportunidades de interação com quem estuda nos diferentes campi pelo país

 A jornada de assessoria começou em 2021, e ao longo de 2022 foram realizadas mentorias, monitoramento e implantação do Programa de Extensão, criado coletivamente com a participação de docentes e equipes do grupo Ânima.

Conciliadas com Oficinas de Inspiração sobre extensão universitária, as mentorias ampliaram o potencial do grupo para contribuir com a transformação social por meio de projetos de extensão. Uma das pessoas participantes compartilhou sua percepção após os encontros:  “Estou encantada com os recursos compartilhados. Essas fontes auxiliam em várias atividades docentes, não especificamente aos Projetos de Extensão.”

A grande conquista foi a implantação do Plano de Desenvolvimento Extensionista com os pilares que levam em consideração a relação da universidade com o público externo, o território e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

No ano passado, 17 universidades elaboraram ações de extensão com o suporte da assessoria técnica do Instituto Elos, espalhadas por várias regiões do Brasil, do nordeste ao sul. E todas as demais universidades que compõem o ecossistema do Grupo Ânima vão, a partir de 2023, submeter seus projetos de extensão baseados nesse plano, direcionado para a construção de um melhor mundo.

Para conhecer um pouco mais esse processo de integração universidade, comunidade e diversos atores sociais, por meio da extensão, assista um trechinho da Mostra de Extensão 2022 no Youtube: http://bit.ly/3XlOksU