Inspirando-se para construir um novo sonho: o jardim do Elos

Por Ariane Mates* e Paulo Farine Milani**

Um dia após viver a magia do Guerreiros Sem Armas 2012, partimos para uma aventura nos Estados Unidos. Poucas malas, muita disposição. Escolhemos Salt Lake City (terra natal da Ariane), Nova York, São Francisco e alguns parques nacionais no meio do caminho. Nossa ideia era visitar amigos e andar bastante em busca de Arquitetura, formas criativas de uso de espaços urbanos, jardins comunitários e alimentação saudável com produção local.
A única coisa planejada era que chegaríamos em Nova York, cinco dias depois seguiríamos para cinco dias em São Francisco e, por fim, aproveitaríamos mais cinco dias em Salt Lake City. O resto da jornada, a gente foi descobrindo no meio do caminho. Chegando em Nova York, logo recebemos a dica: “permita-se se perder na cidade. Caminhe para qualquer direção, converse com as pessoas, observe o que está rolando. Vão se surpreender!” Seguimos a regra com afinco e nos encantamos a cada momento.
Pra começar, o grande aprendizado da viagem: “A melhor coisa que alguém pode fazer para o mundo é cultivar um jardim” (ouvimos esta citação de Bill Mollison de um amigo). A gente não está falando só daquele jardim ornamental bonitinho com cerca branca e caminho de pedras, estamos falando de jardins num sentido amplo – ecossistemas, onde tudo se relaciona interdependentemente. Lugares que geram vida, beleza, paz, bons aromas, comunidade. Nessa jornada procuramos múltiplas formas de jardins, coletando sementes para sonhos e projetos que queremos realizar já.
Compartilhamos aqui algumas coisas que descobrimos e que nos inspiraram muito.Nova York
High Line Park – http://www.thehighline.org/
Era uma linha férrea elevada abandonada desde 1980 que seria demolida. Em 2002, a ong Amigos do High Line (Friends of the High Line) – uma associação comunitária criada por 2 moradores gays do bairro para defender a preservação da estrutura – provou para a prefeitura que os impostos gerados pela criação de um parque seriam maiores que os custos de construção e reforma. Depois, mobilizaram artistas, moradores e abriram um concurso arquitetônico e paisagístico para o local. Em 2010, um parque de 2,3 km foi oferecido à cidade. O High Line é um ótimo case de aproveitamento de espaço público e uma das mais bem sucedidas parcerias entre associação comunitária, empresas e governo da cidade. O entorno valorizou rapidamente e o parque recebeu 3,7 milhões de visitantes em 2011.
Andando por este parque linear, denominado o “Central Park da nossa geração”, ficamos encantados (não à toa, voltamos lá 3 vezes). Tivemos a experiência de uma vista única da cidade – parecia que estávamos flutuando entre prédios e edifícios num lindo caminho de plantas nativas. A cada passo, descobríamos surpresas para engajar os sentidos. Por exemplo, um lugar onde podíamos assistir ao movimento das ruas como se estivéssemos diante de uma tela de cinema; outro espaço onde podíamos sentar e molhar os pés; cadeiras de sol que rolavam nos trilhos revitalizados; espaços de exposição de artes. Logo abaixo do High Line, encontramos o Chelsea Market, cheio de comidas gostosas e produtos criativos. Foi impressionante ver a diversidade de pessoas que estavam curtindo o local.
(High Line Park, Nova York – Ago 2012)
Eagle Street Rooftop Farm (http://rooftopfarms.org/) – é um exemplo bem interessante de horta comunitária. Situada numa área industrial do Brooklyn, ocupa os 1800 metros quadrados do telhado de um prédio com vista para os arranha-céus de Manhattan. Uma boa estratégia de utilização de espaços para agricultura urbana. A ideia surgiu a partir de conversas entre designers e os donos do prédio que investiram na ideia. A horta, criada em 2009, já teve uma variedade de mais de 30 tipos de vegetais, de melancias a repolho, serve restaurantes do bairro e o mercado de produtores orgânicos. Há um programa de compostagem utilizando matéria orgânica dos restaurantes da região e oportunidades de voluntariado. Entre 2009 e 2011, receberam mais de 100 grupos – escolas, ONGs e organizações comunitárias – para atividades educacionais. Em parceria com a organização Growing Chefs (http://growingchefs.org/), promovem atividades com o objetivo de aproximar as pessoas daquilo que elas comem e, assim, formar uma geração consciente sobre uma alimentação melhor balanceada, fresca e bem feita. Eles acreditam que todos deveriam saber de onde vem o seu alimento e como é produzi-lo.

(Eagle Street Rooftop Farm, Nova York – Ago 2012)
 
São Francisco

Era o entardecer do primeiro dia em São Francisco, caminhávamos pela Haight Street – famosa nos anos 60 por ser uma das principais referências do movimento hippie – e encontramos o espaço da foto a seguir:

(Haight Street Parklet, São Francisco, Ago 2012)
Na rua, chamada de “parking space” – (estacionamento), havia um espaço com mesas, cadeiras e jardins. As pessoas podiam sentar-se ali, conversar, comer ou tomar algo do restaurante em frente. Este “parklet” (esse é o nome do espaço) foi inspirado no movimento “Park(ing) Day”. A idéia é o máximo! Em 1 dia, arquitetos, artistas e moradores vão até os estacionamentos públicos (parking space) – onde você paga pelas horas que estaciona – e, ao invés de carros, colocam parques (parks) e jardins temporários. O nome “park(ing) Day” é um jogo de palavras com esta troca de função do local. De estacionamento (parking) para parques (parks). Desde a primeira edição, em 2010, o Parking Day acontece anualmente em diferentes cidades do mundo, inclusive São Paulo.
Por lá, a ideia caiu bem, a prefeitura se envolveu e os “parklets” estão ganhando as ruas da cidade. Eles são criados para que os moradores possam desfrutar melhor dos espaços públicos e, assim, aumentar a qualidade de vida de quem mora ali. Os criadores do projeto – Rebar Art & Design Studio – têm um portfólio com iniciativas super incríveis que visam inspirar pessoas a reimaginar o ambiente e o nosso lugar nele. Seus projetos estão na intersecção de 3 áreas: arte, design e ecologia. Para saber mais, vale a pena visitar o site http://rebargroup.org/ .
Encontramos vários “parklets” pela cidade e descobrimos que o Departamento de Planejamento Urbano de SF tem um programa de incentivo a estas iniciativas, chamado “Pavements to Parks”. De acordo com uma pesquisa do departamento, ruas e avenidas da cidade ocupam 25% da rea total da cidade. É um espaço maior do que a soma de todos os parques da cidade. Sendo assim, estas iniciativas visam ser um laboratório onde a prefeitura pode trabalhar junto com as comunidades para testar/experimentar novas propostas de espaços públicos saudáveis para a população. As instalações tem caráter temporário e utilizam materiais removíveis.
Salt Lake City
 
Salt Lake City, “cidade do lago salgado” (em tradução livre) – uma cidade rodeada por grandes montanhas, tem esse nome por conta da proximidade com um grande lago de sal. Apesar de ter uma população com mais de 1 milhão de habitantes, o estilo de vida se parece com uma cidade de interior. No inverno, as montanhas ficam cheias de neve, atração para amantes do ski que lotam os “ski resorts” ao redor da cidade. Na primavera, a neve derrete, enchendo rios e vales, e permitindo com que a cidade fique verde durante o clima quente e seco do verão.
 
Sugar House Community Garden – localizado em uma velha quadra de tênis chamada Fairmont Park, que estava abandonada por mais de 10 anos, o jardim comunitário do bairro “Sugar House” está no seu segundo ano de existência. Consiste em 96 camas para hortas que foram construídas por cima do asfalto e são alugadas para famílias do entorno por 40 dólares a cada estação. Quando Heidi Spence – coordenadora do projeto – foi até a prefeitura pedir permissão para construir a horta no espaço abandonado, foi orientada que o projeto seria aprovado com a condição de que o espaço fosse devolvido caso surgisse um projeto de construção. Ela os convenceu dizendo que a horta seria construída em caráter provisório, sem destruir o asfalto. As primeiras 46 camas foram construídas com o apoio de uma loja de material de construção e as restantes através da mobilização de recursos dos próprios hortelões. A água vem de um pequeno córrego que passa próximo ao local. Em 2012, outras 20 camas foram construídas com apoio de uma associação de jardins comunitários totalizando o tamanho atual. Cada família é responsável por cuidar do plantio e do cultivo de sua respectiva área e os resultados tem sido bem impressionantes para todos. O site com mais informações do projeto é: http://sugarhousecommunitygarden.blog.com/

(Sugar House Community Garden, Salt Lake City – Ago 2012)
 
Backyard garden – Ao chegar na casa de Ben e Silvana, fomos logo apresentados ao “pequeno paraíso”. No quintal da casa, um jardim com rosas, girassóis, vários tipos de ervas, tomates, cenouras, vagem, pepino, couve, alho, cebola, beterraba, abóboras e frutas como uva, framboesa, avelã, ameixa, maçã, pêssego e cereja.
(Cesta de frutas do jardim de Ben e Silvana – Ago 2012)
O nosso sonho de mundo se realizava ali no momento em que fomos colher diferentes frutas e vegetais para preparar o jantar. E que jantar! Um ambiente decorado maravilhosamente, companhia de pessoas incríveis e a comida fresquinha, preparada com carinho.

(Pratos com legumes do jardim da casa de Ben e Silvana – Ago 2012)
O jardim é cultivado há mais de 15 anos. Quando compraram a casa, havia apenas a macieira e um gramado. Aos poucos foram plantando as outras espécies, vieram as árvores frutíferas e a horta. Aos poucos, o espaço de cultivo foi crescendo e hoje ocupa 61 m² de um quintal com 200 m². Todo ano, de maio a setembro, o cultivo é tão grande que é preciso oferecer verduras para amigos e vizinhos. É um grande exemplo de como é possível preparar alimentos saudáveis com aquilo que vem do quintal de casa.

(Quintal com a horta ao fundo, casa de Ben e Silvana – Ago 2012)

De volta ao Brasil, estamos sonhando com a horta do Elos e que nos próximos meses possamos ter na mesa de almoço verduras e frutas que colhemos no nosso próprio quintal. É uma jornada completamente nova pra muitos de nós. Estamos empolgados para aprender bastante e ver nosso jardim crescer e se encher de vida. Quem quiser se juntar a nós, fique àvontade e sinta-se bem vindo.

 
*Ariane Mates – É arquiteta pela California College of the Arts e Guerreira Sem Armas da edição 2007. Transita entre os núcleos de Relacionamento e Realização, exercendo as funções de designer gráfica e facilitadora. Sua atenção aos detalhes e à beleza é um diferencial em todas as suas atividades, seja ouvindo à comunidade ou produzindo peças gráficas.
**Paulo Farine – É administrador pela Universidade Estadual de Londrina e transita entre os núcleos de Realização e Consolidação. Guerreiros sem armas de 2009, aplica seus conhecimentos no desenvolvimento de produtos e serviços do Elos, ao mesmo tempo em que constrói sua experiência como facilitador junto à comunidades e jovens.

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