Sobre mudar o mundo; e começar de sua própria rua

Por Tony Marlon*
– Fala, Ronaldo? E aquele parquinho mais tarde, mano? Vamos fazer ou não?!?
E Ronaldo cumprimenta todo mundo. E segue o seu caminho.
Sai de cena o combinado pro futebol, e entra o pacto por mudar o mundo. Começando da rua de casa.
A imagem é essa. O conceito é o mesmo, mas as histórias têm três cenários: a Baixada Santista, a Zona Sul de São Paulo e seu outro canto, a Zona Noroeste, do outro lado da cidade.
Diz o poeta Sérgio Vaz, idealizador da Cooperativa Cultural da Periferia – Cooperifa SP, que todo revolucionário é aquele que quer mudar o mundo e tem coragem de começar por si mesmo. Aqui, nesse texto, contaremos as histórias de três guerreiros sem armas que acreditam que as mudanças mundiais só acontecem porque as comunidades locais estão em constante transformação. Mais que isso; eles decidiram fazer acontecer mudanças; dar sua contribuição às suas comunidades. Cada um à sua maneira, e no seu tempo. Com seu talento.
“Os desafios de trabalhar em sua própria comunidade só não são maiores que o prazer de ver as coisas acontecerem, ganharem vida com o passar do tempo”, conta Tony Marlon, GSA 2009. Morador de Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo, Tony passou a empreender desde o ano de 2011 o Projeto Escola de Notícias, uma mistura de produtora audiovisual com consultoria em comunicação e mobilização comunitária.
O negócio social, que atualmente tem apenas moradores do bairro em sua equipe, gera não apenas renda, como provoca transformações reais a partir do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação. “O Campo Limpo tem um movimento absurdo de iniciativas culturais e sociais. O legal de se querer e fazer uma coisa dentro de casa, em seu próprio bairro, é que existe uma possibilidade muito grande de trabalhar o tempo todo, praticamente, com amigos. Isso tanto internamente, quanto em outras iniciativas”, conta Tony.

Corta.
Vila Brasilândia, Zona Noroeste de São Paulo. Também guerreiro sem armas da edição 2009, Dimas Gonçalves conhece e é conhecido por muita gente. É só andar um pouco com ele pelas ruas para ver. E ouvir, de tanto que o chamam. Dimas sempre gostou de contar histórias. Ouvi-las, então, é quase um talento, diz. E de talento em talento, aprendizado em aprendizado, conta que começou a pensar como poderia colocar tudo a serviço de sua comunidade. Pensou, pensou. E um dia, como uma chuva, daquelas bem fortes – palavras dele – a ideia surgiu. Conexões e mais conexões com tudo que viu e viveu, e nasceu o conceito do Projeto Guardiões Griô. Entre tantas coisas que não são visíveis aos olhos, a iniciativa quer provocar conexões transformadoras a partir das histórias e saberes locais. Para Dimas, mais que memória, as histórias contadas pelos moradores de uma comunidade tem um incrível potencial inspirador e são, em si, um convite para a ação coletiva. E para a mudança.

Com investimento da Secretaria Municipal de Cultural, o Guardiões Griô teve sua primeira edição com formação de público em 2012. E Dimas já tem muitas lições dessa estreia.“Existe um grande desafio quando pensamos em projetos dentro de nossas próprias comunidades. Hoje, eu acho que é conciliar interesses e firmar uma parceria, seja um grupo ou mais uma pessoa, para que o projeto ganhe força, ganhe vida”, conta, dizendo que o maior aprendizado desse primeiro ano é que mágica não existe. De verdade. “Nada se faz sozinho. Entendi isso. É preciso criar as condições necessárias para que se tenha uma rede de suporte que viabilize a execução do projeto, senão você não consegue tirar as coisas do papel”.
Se a conversa para esse artigo tivesse sido feita em uma praça qualquer, com todos juntos, Ronaldo Pereira certamente teria dito que concorda com Dimas exatamente nesse momento. Para Ronaldo, maior que o desafio de criar a rede de suporte, é aquele de colocar todos para falar a mesma língua em uma conversa aberta na comunidade.
Corta.
Comunidade da Alemoa, entrada da cidade de Santos, litoral de São Paulo. Ronaldo, morador dessa comunidade que foi parceira do GSA 2009 e é guerreiro da edição 2011, agora, é um grande articulador e mobilizador comunitário. Mas, conta ele, nem sempre foi assim. “Depois de conhecer o GSA , passei a pensar em potencializar a minha comunidade. Antes pensava de forma diferente, mesmo. Acreditava muito na questão de que o governo tinha obrigação de fazer o que nós precisávamos”, explica Ronaldo, que já perdeu as contas de quantas vezes já desenhou ações junto com amigos para transformar a Alemoa.
“É muito diferente trabalhar fora da nossa própria comunidade, pois eu acho que as pessoas estão mais abertas ao novo. Tem um ditado que representa muito isso, que é aquele que diz que santo de casa não faz milagre, mesmo sendo provado o contrário algumas vezes”, conta o guerreiro. E como faz. No caso de Ronaldo, “os milagres” estão por vários cantos da comunidade. É só escolher um ponto e ver que esse ditado não se aplica por lá, definitivamente.

Para Ronaldo, o maior desafio de sua comunidade e de seu trabalho, hoje, continua sendo o mesmo de sempre: diálogo. “O maior desafio é conseguir reunir as pessoas para uma conversa com todos os interessados. Ainda existe muito a ligação política de alguns lideres comunitários que discordam de fazer junto com outro líder da oposição ou situação, por exemplo. Isso acaba travando o desenvolvimento da comunidade”, explica Ronaldo, que garante já ver melhora. “Hoje na minha comunidade vejo que estão surgindo novos líderes com novos ideais e com vontade de fazer juntos. Isso é importante pra gente”, finaliza.
Ronaldo está criando uma consultoria para projetos de comunidades, a Metamorphose, em parceria com o guerreiros sem armas 2012 Izaque Hortencio. Mas não tenho dúvidas que a comunidade da Alemoa já é seu projeto acontecendo ao ar livre.

Uma das ações organizadas por Dimas envolveu a pintura de ruas do seu bairro

 
* Tony Marlon é formado em Jornalismo pela Universidade Santo Amaro – UNISA, vem se dedicando a pesquisar como as Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs, impulsionam transformações e geram impactos positivos reais na sociedade. Empreendendo o Instituto Escola de Notícias desde 2011, tem o sonho de contribuir para uma educação fortalecedora de propósitos, não criadora de profissões.  tony@escoladenoticias.org / www.escoladenoticias.org

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