Uma Trilha para a mudança

Trilha
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Recebemos com alegria o convite da nossa parceira Imaginable Futures no Brasil para participar da Trilha de Equidade Racial com a Mahin Consultoria Antirracista. O tema havia acabado de surgir no planejamento da organização como transversal e prioritário para 2023. 

A iniciativa faz parte do processo de construção e de fortalecimento das organizações parceiras da Imaginable Futures em direção à uma educação antirracista e um mundo mais justo e equitativo. Uma das condições para participação do Elos foi a presença de pessoas tomadoras de decisão, isso para garantir que as discussões de fato gerem transformações dentro da organização. Um terço da nossa equipe esteve presente na formação presencial, nosso desejo é que todos tenham essa experiência, pois nos ajuda a construir uma base comum a partir da qual discutimos, criamos cenários e desenvolvemos soluções, além de contribuir com a pesquisa e com o crescimento pessoal.

“A participação na Trilha contribuiu na minha vida como ganho de repertório: compreender o contexto histórico do racismo estrutural e da luta antirracista no Brasil me ajudou muito a entender onde estamos hoje e os conceitos que estão na pauta desse debate atualmente: representatividade, lugar de fala, colorismo, interseccionalidade, privilégio branco, políticas públicas afirmativas, dentre outros.” – Henrique Neves é um homem negro, não retinto, especialista em criação estratégica para campanhas e marcas com propósito, da equipe de comunicação do Elos.

Nesta edição da formação tomamos o cuidado de compor um grupo multidisciplinar com participantes de todas as células da instituição atuando em várias frentes: gente que facilita, que comunica, que pensa e viabiliza as estratégias financeiras da organização, e claro, gente que compõe o, recém formado, Comitê de Equidade do Elos.

O povo fez as malas e partiu de Santos (SP), Salvador (Ba), Rio de Janeiro (RJ) e Coronel Feliciano (MG), para os encontros presenciais que aconteceram em São Paulo nos dias 03, 04 e 05 de dezembro. Do lado de quem veio, a grande motivação para se juntar nessa pesquisa é ao mesmo tempo pessoal – integra curiosidade, ativismo e causas pessoais – e institucional, está diretamente ligada aos desafios da organização e dos papéis que cada pessoa anima no Elos.

“Sendo uma das pessoas que cuidará do Comitê de Equidade do Elos, que faz parte de um dos meios para alcançar um dos objetivos da organização para 2023, percebo que as informações foram fundamentais para esse processo de criação e ações de equidade dentro de organizações.”  – Aline Bento é uma mulher negra, bióloga, educadora, e facilitadora da equipe Elos.

A equipe voltou com olhos brilhantes e desejo de colocar a mão na massa para implementar e ampliar ações antirracistas na organização.

O que fomentou isso? Principalmente a abordagem proposta na Trilha, apresentando ferramentas e boas práticas que podem ser adotadas no dia a dia para revelar e combater práticas racistas. 

A discussão de milhões foi pegar situações do cotidiano e se perguntar, e se fosse você, o que faria? Será que eu iria me omitir? Será que eu iria me pronunciar? Saímos do ponto de só culpar o outro para nos posicionar e nos comprometer a fazer mesmo as pequenas coisas para, no meu dia a dia, contribuir sendo antirracista.”  – Adriana Rosa é uma mulher negra, pesquisadora e investigadora de equidade racial e feminismo, e colaboradora do Elos em projetos.

Outro mérito da equipe da Mahin foi criar um ambiente seguro para que a discussão pudesse alcançar a profundidade necessária para uma aprendizagem e transformação real. Discutir abertamente sobre racismo ainda é tabu, o que pode gerar consequências importantes, como a perpetuação do sistema estrutural racista. 

“A Trilha foi maravilhosa! Sinto que desde que os encontros aconteceram tenho mais capacidade e ferramentas de narrar minha circulação no mundo enquanto mulher branca e cis. Me colocou em contato com o pensamento crítico racial e proporcionou um espaço muito acolhedor e seguro para o debate, tanto para pessoas brancas quanto negras. Isso possibilitou que falássemos sem medo e que pudéssemos encarar e falar sobre as reais consequências do racismo no Brasil. Me sinto mais desafiada e mais preparada para lidar com minha branquitude e os impactos dela.” – Juliana Gomides é uma mulher branca, historiadora e facilitadora da equipe Elos

“Pude colocar dúvidas e sentimentos e receber respostas e ferramentas que auxiliaram meu entendimento sobre meu potencial de ação, onde posso colocar de verdade mão na massa para fazer transformação e como fazer isso também de uma forma justa, empática e efetiva. Contribuiu bastante para essa exploração da minha força na desconstrução. ” – Lia D’Amico é uma pessoa branca, comunicadora especialista em processos ágeis e consultora de comunicação.

A equipe presente no curso foi convidada a contribuir com um plano de equidade racial, em que cada pessoa podia pensar em ações antirracista a partir de suas funções na organização. A iniciativa marcou apenas o início das discussões sobre o tema que será debatido exaustivamente por nós.

Mas o que é mesmo essa tal Trilha de Equidades?

“A Trilha de Equidade Racial consiste em uma experiência formativa com metodologias ativas, e que tem como objetivo o letramento racial para pessoas que ainda não tiveram oportunidade de discutir sobre o tema ou tem menos repertório sobre desigualdade racial no Brasil, estimulando a reflexão sobre o papel que cada pessoa e instituição pode ocupar na luta antirracista. A trilha é aberta para todas as pessoas, independente da sua autodeclaração de raça/etnia.”

A metodologia foi desenvolvida em três encontros virtuais ou presenciais (3-4h cada), que  abarcam partes expositivas, dinâmicas de grupo e espaços de debate que têm como objetivo:

  • Aprofundar o conhecimento sobre a desigualdade racial no Brasil a partir de alguns conceitos básicos.
  • Contextualizar as ideias de privilégio e branquitude no debate sobre diversidade, inclusão e equidade. 
  • Estimular a reflexão sobre o papel que cada um/uma pode ocupar na luta antirracista.

*A Mahin Consultoria Antirracista é uma organização antirracista e de protagonismo negro com foco em formação de pessoas com compromisso radical com a equidade racial.

Círculo de Re-evolução GSA: um encontro na África do Sul

Um encontro na África do Sul

O último mês de novembro foi muito especial e importante para nós, com a concretização de mais um sonho: realizar um encontro de Guerreiros Sem Armas na África do Sul. Esse sonho começou lá em 2019 e foi interrompido com a pandemia, mas nunca esquecido… e agora em 2022 chegou a hora de ver a materialização desta reunião tão potente e tão aguardada! Participaram 18 GSAs de diferentes edições: 2012, 2014, 2017, 2018, 2019 e 2022. Gente que veio das Américas, Ásia, Europa e do próprio continente Africano. 

Um encontro na África do Sul

Foram 18 dias na África do Sul, em Stellenbosch, reunidos para refletir, sonhar, realizar, se conectar, dançar e celebrar, trabalhando junto com os moradores e moradoras da comunidade de Lanquedoc. Dias intensos, de muitas trocas e aprendizados. O grupo pode vivenciar mais uma vez os sete passos do Jogo Oasis e viram a abundância, os sonhos e os milagres se materializarem bem diante de seus olhos.

Teve Show de Talentos com muita dança, muita música, e a participação de mais de 200 pessoas para compartilhar e admirar os talentos que ali se apresentavam! Teve também Encontro dos Sonhos e de Projetos e a escolha de construir um espaço de convivência com múltiplas funções: cuidar da alimentação das pessoas, por meio de uma horta comunitária; cuidar da convivência e garantir um espaço de encontro coletivo, inspirado na cultura do povo tradicional Khoisan; um playground e uma creche para as crianças; e um espaço para a venda dos vegetais.

Em dois dias os recursos foram mobilizados, as pessoas apareceram para colocar a mão na massa – especialmente as crianças, que trabalharam muito! – e, no final do domingo, o local escolhido, uma praça central da comunidade, já tinha se tornado um espaço totalmente diferente!

Antes do Mutirão de 2 dias
Antes do Mutirão de 2 dias: uma praça desocupada
Depois do Mutirão de 2 dias
Depois do Mutirão de 2 dias: novos espaços construídos coletivamente

E essa foi a semente para o início de uma transformação em Languedoc: os próximos passos foram definidos na reunião de Re-evolução, com o desenho de planos a serem colocados em prática no mês seguinte; três, seis e 12 meses depois também. 

Assim como a comunidade, os GSAs também passaram por outros processos de transformação durante essa jornada: jogos baseados em sabedorias ancestrais com Kaká Werá; uma roda de conversa com o convidado Wilhelm Verwoerd, um facilitador e pesquisador sul-africano que é neto de Hendrik Verwoerd, o então Primeiro Ministro da África do Sul e responsável pela implementação do regime de segregação racial conhecido como apartheid, para entender o contexto histórico do país e as consequências do racismo que reverberam até hoje na sociedade; visita a organizações sociais locais; e atividades entre o grupo para desenhar e sonhar seus próximos passos depois do programa. 

Uma experiência memorável, inesquecível, que reforça nossa crença, mais uma vez, de que a comunidade é a resposta para todas as perguntas; e renova a nossa esperança de que o melhor mundo é possível!

 

A importância de um Centro Comunitário

Foto da obra
Foto da obra

O Guerreiros Sem Armas e os primeiros passos na construção do centro comunitário garantiram aos moradores e as moradoras da Vila dos Criadores, em Santos (SP), a oportunidade de participação social em prol de um futuro melhor na comunidade. 

O centro será o primeiro equipamento comunitário da Vila dos Criadores, e mesmo antes de ficar pronto já está possibilitando que diferentes pessoas trabalhem e dialoguem de forma cooperativa. Para além da experiência de subir as paredes da obra, a comunidade está organizada para ocupar espaços de discussão em que seja possível pensar, refletir e agir para melhores condições de vida no bairro. 

Foi decidido em reunião comunitária, por exemplo, a formação de uma Associação de Melhoramentos para a Vila dos Criadores, para que haja um grupo de pessoas pensando em políticas públicas, moradia e cidade, obras contínuas de melhorias, captação de recursos, meio ambiente e mobilização social do bairro. 

Além disso, um dos objetivos dos moradores é usar o centro para fomentar, cada vez mais, vínculos e convivência entre a vizinhança, espaços de aprendizagem e projetos no bairro. Atividades físicas, culturais, formativas e de convivência são alguns dos pontos levantados por quem aguarda ansiosamente a finalização da obra.

“Como o próprio nome já diz, o centro comunitário vai juntar e centralizar toda a comunidade para planejar projetos e ter um lugar melhor. <br>Na minha vida, eu acho que terá um bom impacto porque eu me vejo participando e planejando esses projetos para causar outros impactos positivos na comunidade”. Leonardo, jovem de 17 anos morador da Vila dos Criadores

“O centro comunitário vai impactar muito na nossa favela. Vai trazer muitas coisas para nossas crianças não ficarem na rua… Terão espaço para ficar no contra-turno.  Será ótimo porque nós, mães, teremos algo para ocupar nosso tempo na comunidade também. Já sentimos os impactos do espaço porque sentimos esperança desde que a obra começou”. Amanda, moradora da Vila dos Criadores

Foto da obra

A discussão urbana e de moradia digna envolvendo o território é alvo de discussão na Câmara Judicial que está sendo conduzida pelo Ministério da Justiça de São Paulo. Esse processo garante que diferentes autoridades públicas como Prefeitura, Secretaria de Meio Ambiente, Secretaria de Desenvolvimento Social, Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Secretaria de Infraestrutura, e instituições como o Instituto Elos, o Instituto Brasileiro de Direito Urbano, as Universidades, entre outros, discutam e pensem a permanência da comunidade no território e sua urbanização, ou o reassentamento em outro espaço, a partir de estudos técnicos em elaboração. 

Processos como esse levam anos até uma conclusão. Por isso, a decisão em juízo foi pela autorização do início da construção do centro comunitário da Vila dos Criadores. A decisão foi muito celebrada pela comunidade, que não vê a hora de ter acesso a espaços coletivos de convivência, esporte, cultura e lazer. 

Co-fundadora do Instituto Elos, Natasha Gabriel fala sobre a importância de um espaço em que as pessoas possam reconhecer seus laços de pertencimento, ter acesso a diversas oportunidades e se encontrar para organizar a participação social e de decisão que debate sobre o futuro.

“O centro comunitário da Vila dos Criadores é um espaço físico e simbólico em que passado-presente-futuro se encontram. É lugar de união, resiliência e criação a partir do protagonismo comunitário”
Natasha Gabriel
Co-Fundadora Instituto Elos

A campanha Dia de Doar está a todo vapor e é possível apoiar o sonho da comunidade e ajudar a transformar realidades através do acesso ao lazer, esporte, cultura, educação e bem estar social por meio do centro comunitário.